sábado, 6 de outubro de 2012

O Ensino da Gramática na Escola



Maria Milena Coelho de Oliveira [1][2]
Prof. MS  Vicente Martins[3]

 Este estudo apresenta aspectos da gramática da língua a que o ensino não tem dado a devida atenção e afirma que um campo interessante para gramática reflexiva em torno da semântica e pragmática dos recursos lingüísticos é o emprego dos tempos e modos verbais. Partindo delas, o professor pode atingir um resultado mais satisfatório, porque está contextualizando a gramática e, dessa forma, conduzindo o educando a refletir sobre a própria língua e ampliar sua capacidade lingüística. Este estudo teve como objetivo reconhecer a importância do ensino da gramática numa visão sociolingüística desprovida de preconceitos e valorizando os diferentes usos lingüísticos nos contextos comunicativos. A metodologia utilizada foi um estudo bibliográfico através de autores como De Nicola e Infante; Samento; Sacconi; André; Travaglia e Silva Júnior. A partir dos resultados constatou-se que segundo o embasamento em teorias semântico-pragmáticas e textuais, esta pesquisa tentará dar conta de seus objetivos, pois acredita-se que, partindo delas, o ensino de português possa tornar-se mais eficiente, ou seja, permitir que o falante consiga transferir o conhecimento adquirido numa situação de interação verbal. A partir do momento que tal fato realizar-se, o ensino de língua materna terá cumprido seus objetivos.

Palavras-chave: Ensino da Gramática, Língua Materna; Gramática Normativa; Linguagem



1. INTRODUÇÃO

Este estudo procura mostrar através de pesquisas os melhores recursos de ensino da gramática aplicada no cotidiano do aluno com a finalidade de melhorar a prática pedagógica em sala de aula, fazendo da Língua Materna o ponto de partida para o aprendizado de outras Línguas.
A língua portuguesa precisa ser valorizada e cabe a nós, profissional da área, fazer isto acontecer. Incentivando os alunos a lerem e a produzir textos, utilizando a gramática como suporte para que seus textos saiam bonitos. Podemos assim conseguir realizar esta meta.
No mundo atual escrever é importante e necessário. Justifica-se o estudo em pauta pela oportunidade de mostrar que saber comunicar-se, usando a escrita é um dos fundamentos da capacidade de ser e realizar, da cidadania e da competência. A tão propagada era do computador, que, muitos afirmam, iriam diminuir muito a necessidade de papel e escrita fez o inverso: nunca tanta informação e conhecimento circulando entre tantas pessoas e de modo tão rápido, fizeram as pessoas se comunicaram tanto (e-mails, chats, etc) fazendo com que todos escrevam mais e mais. Neste contexto observa-se que escrever bem exige conhecer as regras e bons autores do idioma que se escreve. E é nesse momento que o professor da Língua Portuguesa deve procurar acompanhar a evolução tecnológica, buscando melhores métodos de ensino da gramática pela vivência, a fim de transmitir nosso saber de forma lúdica e prazerosa sem ter aquelas regras frias e inflexíveis, mas como um conjunto de orientações práticas e acessíveis.

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1. Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano estruturaram sua gramática normativa e desenvolvem didaticamente o ensino de gramática:

Esta obra é apresentada em volume único e dividida em literatura, gramática e produção de texto.
Na parte de gramática são apresentadas as principais regras gramaticais estabelecidas pela norma culta. Textos das mais variadas origens, charges quadrinhos e cartazes de rua foram empregados para explicitar algumas regras e facilitar a compreensão dos conceitos abordados.
O trabalho com as variantes lingüísticas e os diferentes níveis de formalidade, porém, não foi esquecido. Concentram na parte de produção de texto as aplicações e os exercícios voltados ao emprego contextualizado da língua. A apresentação de diferentes portadores de textos na parte de gramática, porém, contribui para que haja espaço para esse trabalho em diversos momentos.
- A linguagem
Os autores tratam deste assunto da variação lingüística com muita importância. Consideram que é preciso ficar claro para o aluno a importância de o falante da língua conseguir ajustar seu registro de fala às diferentes situações que encontra em seu dia-a dia. Esse conhecimento é essencial.
Se a idéia da variação lingüística ficar clara ao estudante, as chances do desenvolvimento da discriminação lingüística diminuirão bastante, pois o aluno perceberá que não há registro melhor ou pior e que cada um serve a momentos e situações específicos.

- Ortografia
Este é um capítulo de consulta. Constatados problemas de ortografia nas produções dos alunos recomendam que consulte o capítulo.

- Dificuldades da língua
Este é um capítulo também de consulta. Constatados problemas com as expressões apresentadas nas produções dos alunos, recomendar que leiam o capítulo.

- Estrutura e formação das palavras
Um aspecto geralmente difícil para o estudante é as vogais e consoantes de ligação. Este tópico é dado de acordo com as necessidades da classe.

- Substantivo e artigo
Sugerem que, no estudo do artigo, seja explicado que cada artigo comporta uma significação dentro do texto. Alguns exemplos são esclarecedores. Na frase “aquela era a mulher da minha vida”, o artigo destacado sublinha o caráter único, especial, do elemento que acompanha (“mulher”).

- Adjetivo e numeral
A sugestão é que os adjetivos menos importantes (considerando-se sua utilização no cotidiano), como os adjetivos pátrios, por exemplo, recebam menos atenção em favor de tópicos notoriamente essenciais, como as flexões. Sobre os numerais, sugere-se que o capítulo sirva como consulta.

- Pronome
Este é um capitulo extenso, pois a classificação dos pronomes é dado em toda a sua amplitude. Desse modo, um estudo que se queira produtivo tem de levar em conta a importância de cada tópico. A parte destinada ao pronome relativo, por exemplo, poderá ser citada rapidamente, para mais tarde ser estudada em conjunto com as orações subordinadas adjetivas, quando o estudo dos relativos terá sentido mais claro para os alunos.

- Verbo
Um ponto importante esquecido nas aulas de gramática são os nomes dos tempos verbais. Dificilmente o aluno aprende por que há um tempo verbal que se chama “pretérito-mais-que-perfeito”. Apenas decora o nome, sem saber sua origem.
Comentam que “pretérito” é aquilo que passou. Por isso designa o tempo passado. “Perfeito” é aquilo que foi totalmente terminado. Assim, um verbo no pretérito perfeito indica, por exemplo, uma ação que foi acabada: “Fiz o que você pediu”, “Imperfeito” é algo que não foi acabado. Portanto, o pretérito imperfeito indica, geralmente, uma ação interrompida em algum momento, antes de seu fim: “Estava acendendo a lareira quando ela chegou”. Seguindo o raciocínio, comentam que o “pretérito-mais-que-perfeito” tem esse nome porque indica, por exemplo, uma ação anterior a um momento passado indicado; o momento passado é o “perfeito”, enquanto o anterior a esse é o mais-que-perfeito. Outro nome que merece explicação é o “futuro do pretérito”, que indica um momento no passado em que havia uma projeção para o futuro: Naquele dia, imaginei que seríamos grandes amigos no futuro.
Sugerem que seja dada atenção especial aos exercícios sobre verbos. Eles ajudarão os alunos a entender a complexa parte teórica. Fazer os exercícios simultaneamente ao estudo da teoria é uma boa idéia.

- Advérbio, preposição, conjunção e interjeição.
A experiência indica que apenas a prática é capaz de mostrar ao estudante o que é o advérbio. É por meio de explicações dentro dos textos que se percebe como ocorre sua utilização. O mesmo acontece com a preposição. Desse modo, em lugar de decorar conceitos, sugere-se que os alunos pratiquem bastante, para que percebam no uso a função de cada classe gramatical.
O estudo do sentido das preposições é bastante importante, pois não cria a idéia de que são elementos sem significação própria. Sugere-se dar certa ênfase a essa parte.
A conjunção é bem explorada durante o estudo do período composto, quando os alunos realmente entenderão sua utilidade. É dada apenas uma visão geral desse assunto.
As interjeições são elementos bastante adequados ao texto narrativo, pois podem aparecer na fala de personagens, já que expressam estado de espírito.

- Período Simples e Período composto
A característica principal desses dois capítulos é a quantidade de classificação, seja de conjunções ou de orações. Assim a ênfase dada aos exercícios, à prática, que deverá, aos poucos, esclarecer dos alunos a razão das classificações.

- Pontuação
Serve mais para consulta

- As palavras “que” e “se”.
As partículas “que” e “se” oferecem dificuldade a analise por terem muitas classificações. Este capítulo esmiúça didaticamente cada ocorrência.

- Sintaxe de colocação
Neste capítulo retorna a questão da variação lingüística e da discriminação a determinados registro de fala, visto em capítulo anterior.

- Sintaxe de concordância
Sugerem explicitar cuidadosamente as relações entre os elementos, concordantes, assim como conceito de nome. As explicações são entremeadas por exercícios individuais ou em classe para facilitar o entendimento dos conceitos.
- Sintaxe de regência e emprego da crase
São dadas as mesmas indicações do capitulo anterior, pois ambos os tópicos têm estruturas básicas semelhantes.

2.2. Contextualizando a gramática normativa e o ensino de gramática sob a óptica de José Nicola e Ulysses Infante

Estes autores desenvolvem sua gramática dirigindo-se diretamente ao aluno levando em conta o professor, com seu papel de orientador, companheiro do aluno na aprendizagem.
Produziram uma gramática que se caracteriza por uma extrema clareza de conceitos, sem, com isso, torná-la maçante. Os fatos da língua são sempre expostos de forma ampla, sendo relacionados com a experiência lingüística do cotidiano. Aluno e professor discutem e analisam um sistema comunicativo vivo e dinâmico, presente em diferentes níveis de fala do português contemporâneo: textos literários modernos (Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto. Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Vinícius de Morais, Mário de Andrade, Oswald de Andrade), letras de músicas (Noel Rosa a Chico Buarque, Caetano Veloso e Milton Nascimento), histórias em quadrinhos (incluindo versões brasileiras e portuguesas) notícias de jornais, anúncios publicitários, grafites.
Todo o material lingüístico foi organizado de maneira a fugir às formas cristalizadas que proliferam nos manuais do gênero fórmulas desgastadas, nem sempre provenientes de uma reflexão ou experiência didaticamente comprometidas. Convencidos de que a palavra isolada é um fato artificial, elaboravam os apêndices de morfossintaxe, em que cada classe gramatical é vista de maneira dinâmica, em sua inter-relação com os demais, no todo significativo que é a frase. Da mesma forma, pontuação e crase são mostradas também como apêndices, pois estão intimamente ligados aos fatos sintáticos.
Nenhum fato gramatical é apresentado de forma teoricamente estéril: afinal, a língua é “a parte social da linguagem”, e seu aprendizado deve ser uma vivência constante e instigante. Não há passagem em que não se procure valorizar a expressividade da seleção vocabular e da construção sintática, incutindo no aluno a percepção dos valores afetivos da linguagem. Daí a presença de textos inteiros para estudo, nunca de frases isoladas. Daí, também, não resistirmos à tentação de ver na gramática um instrumento de interpretação do mundo. Acreditam que sua posição conta com a solidariedade de alguns mestres. Com a palavra, Paulo Freire: “A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele.”
Isso os levou a uma novidade nos livros de gramática: a elaboração de questões que levam a respostas pessoais, estimulando a reflexão, bem com a elaboração de exercícios resolvidos, em que exploram não só a aplicação da teoria estudada, mas também o seu papel como instrumento de “leitura do mundo”. Essas resoluções encontram-se respaldadas na voz de grandes mestres dos estudos da língua portuguesa, sempre citados nos quadros entremeados à exposição da matéria e que atuam como leitura complementar. Encontram-se aí nomes como Mário Barreto, Said Ali, João Ribeiro, Rodrigues Lapa e Mattoso Câmara Jr., entre outros.
Há também questões e os testes de vestibulares cuja novidade é exatamente a inclusão desse novo conceito de questões de vestibulares.
Por fim, é um livro bem atual destinado a alunos e professores que desejam colocar seus conhecimentos dentro dos níveis atuais e coerentes com os novos avanços do mundo.

2.3.  A gramática normativa e o ensino da gramática de Luiz Antonio Sacconi

Esta obra apresenta-se com ilustrações que estimulam o aprendizado. As explicações, desenvolvidas em tom de conversa com o aluno, mantêm a clareza e a objetividade.
Esta gramática procura resolver duvidas sobre este assunto. Cada tópico vem acompanhado de teorias, principais dúvidas e exercícios.
O índice alfabético no final do livro, prático e completo permite a solução rápida das dúvidas gramaticais do leitor e a fácil focalização de qualquer assunto que este possa se interessar.
É, portanto, uma obra em que o autor expõe cada assunto com clareza, simplicidade e facilidade, sem deixar de ser profundo.
Como diz o autor: “Desconhecer a língua é vergonhoso, desrespeitá-la é afrontoso. O princípio da nacionalidade, do civismo e da própria cidadania começa com o respeito à língua pátria. Ame-a, cultive-a quanto puder!”
2.4. A gramática normativa e o ensino da gramática na visão Hildebrando A. de André

Esta obra destina-se aos professores, os estudantes, os candidatos a concurso e exames de habilitação como também os profissionais de todos os níveis que buscam reciclar seus conhecimentos gramaticais. A matéria contida na obra é a que consta nos programas oficiais e tem aplicação imediata no falar e no escrever do dia-a-dia. A parte doutrinária é exposta de modo sucinto e claro, os inúmeros exercícios apresentam-se dispostos didaticamente para acompanhar as explicações dos mestres nas aulas e solucionar uma a uma as duvidas decorrentes da pratica.
Os exercícios visam facilitar não apenas o trabalho escolar, como o uso do idioma no âmbito profissional. Assim, há um grande número de citações, tanto de nossos grandes clássicos, como de renomados escritores contemporâneos. Com isso, a tradição lingüística do Português, espelhada por tantos exemplos se há de mostrar melhor eficazmente guiará a todos os que prezam a língua pátria e se utilizarem desta obra.

2.5. O ensino de gramática na linguagem falada sob a visão de Luiz Carlos Travaglia

Para este professor a linguagem falada não foi estudada por muitas gramaticais tradicionais até pouco tempo, por isso poucos estudos têm sido feito nesse campo. Mesmo a Lingüística moderna fundada a partir do Estruturalismo e em parte continuada pelo gerativismo, também não trabalhou muito com a língua falada, pois estava mais interessada no sistema lingüístico (langue para Saussure, competência para Chomsky). Às vezes essas teorias ou modelos analíticos usavam ocorrências da língua falada como material para chegar ao sistema lingüístico, mas não buscavam uma descrição da língua falada enquanto tal em oposição e comparação contrastiva com a língua escrita. O interesse por uma descrição específica da língua falada só surgiu nas últimas décadas. Parece-lhe que os primeiros trabalhos se devem à Sociolingüística Variacionista. No Brasil a partir da década de 1970.
Para Travaglia, a Lingüística trouxe teorias e modelos analíticos diversos que tanto podem ser usados no trabalho com a língua falada. Quando participou do projeto de Gramática do Português Falado (PGPF) que se iniciou em 1987 e se estendeu por mais de uma década, o que tinham não era um modelo teórico novo para a língua falada, mas a aplicação à mesma de modelos já existentes de analise. Tinham uma média de cinqüenta pesquisadores desenvolvendo um ou mais estudos por ano e cada um utilizava os modelos em que sua formação o tornava mais capacitado, o modelo em que ele se especializara. Certamente se tratou da fonologia, da morfologia, da sintaxe e dos textos da língua segundo diversos modelos teórico-analíticos. Todavia o que foi observado é que a língua falada da qual antes não tratava. Para isto certamente tem vencido desafios que surgem a todo instante. Assim a Lingüística teve de desenvolver métodos e técnicas para:
a) a coleta de material de  língua falada;
b) a transcrição do material gravado;
c) registro não só sonoro da língua, mas a situação, os elementos paralingüísticos como gestos e expressões fisionômicas que na língua falada podem desempenhar papel fundamental na comunicação de conteúdos.
Para ele os cursos de graduação em Letras e Lingüísticas precisam não só passar informação, mas também ensinar a raciocinar, a pensar, a fazer ciência. O estudante de um curso de Letras tem de estudar sobre o resultado dos estudos lingüísticos (a gramática descritiva) tanto o que foi descoberto pelos Estudos Lingüísticos tradicionais, quanto o que foi e está sendo descoberto pelas teorias e modelos lingüísticos do inicio do século XX para cá. Quanto aos currículos crê que todos têm procurado fazer o melhor, e a grade de disciplinas e seu fluxograma, o mais importante para a formação dos profissionais da área de Letras e Lingüística é o que professores e alunos fazem durante o curso, como trabalham, como buscam, como cultivam ou não um espírito cientifico no tratamento das questões todas.
Para Travaglia, o método mais eficiente para se realizar uma analise da língua falada é: a) ter alguns cuidados metodológicos para coleta do material, sua transcrição e sua posterior análise, usando um ou mais dos vários modelos teóricos com devido cuidado para evitar reducionismo; b) evitar estudar o falado com olhar de quem se acostumou a estudar o escrito, ou vendo a fala como um arremedo da escrita e, sobretudo, na análise; c) evitar qualquer viés que possa perturbar a visão mais clara e sem preconceitos do material sob estudo.
O professor de língua materna deve ensinar a Gramática normativa, mas é preciso fazê-lo não na visão de que só se pode usar a língua de um determinado modo, com o expurgo os demais modos. Para ele a gramática normativa deve ser trabalhada com o aluno como uma espécie de regras sociais do uso da língua, uma espécie de “etiqueta” para o uso das diferentes variedades e seus recursos, pensando mais na adequação do como se diz aos efeitos do sentido pretendidos, aos objetivos que se quer alcançar com o dizer (falando ou escrevendo) e à situação específica de interação em que se está muito envolvida. Por isto importa muito ver estudo da gramática da língua como o estudo das condições lingüísticas da significação. Isto resulta no desenvolvimento da competência comunicativa.
Para ele a gramática normativa não diz quais são as unidades, construções, categorias de uma língua e nem explica como elas funcionam e nem analisa elementos da língua. Quem diz como a língua é constituída e como funciona é a gramática descritiva. A gramática normativa é aquela que faz recomendações de como usar a língua. Tradicionalmente a gramática normativa atinha-se apenas a recomendar as formas e modos de dizer de norma culta. O que fugia da norma culta não podia ser usado, pois não tinha qualidade.
Hoje não se restringe a gramática normativa apenas ao uso da norma culta não é o único parâmetro de qualidade no uso da língua. Há variedades cultas como a literária, a científica, a dos documentos oficiais, a dos jornais e revistas e assim por diante. As normas vão dizer em que situação é socialmente recomendável usar a norma culta, mas também uma linguagem mais ou menos cortês, ou técnica ou formal, de uma ou outra região grupo social e assim por diante.
Os professores de Língua Portuguesa devem utilizar muita criatividade, conhecimento e consciência do que está fazendo em sala de aula e para quê está fazendo. O ensino de teoria gramatical e de nomenclatura é improdutivo do ponto de vista da formação de usuários competentes da língua. O estudo apenas do uso pode gerar lacunas culturais, e por falta de conhecimentos teóricos necessários socialmente, mas é preciso lembrar quem em termos da população em geral não é necessário formar analistas da língua.
É preciso que o professor siga estes passos: a) ninguém faz um trabalho interessante com aquilo que não conhece bem. É preciso estudar bem, procurando o máximo de informação sobre o tópico que será objeto de estudo; b) É preciso lembrar que o trabalho em sala de aula depende de opções políticas, culturais, educacionais, pedagógicas, lingüísticas, etc. Assim é preciso decidir, por exemplo, com que variedades lingüísticas se vai trabalhar? Qual será a meta: formar usuários competentes da língua ou analistas da língua? Que tipo de ensino da língua vamos fazer: prescritivo, descritivo ou produtivo? Qual concepção de língua e gramática que rege seu trabalho? Com que categorias de textos (tipos, gêneros, etc.) vai trabalhar? c) É preciso observar onde os alunos estão e onde se quer fazê-los chegar; d) Finalmente é preciso usar boa vontade e criatividade para trabalhar do modo mais pertinente possível, mostrando ao aluno a necessidade para sua vida do que a escola lhe apresenta.

2.6. A visão de Jurandir Marques Silva Junior sobre o ensino de gramática no ensino médio.

Segundo Jurandir, o uso da gramática, em geral, no ensino da Língua Portuguesa nas escolas, vem gerando muitas polêmicas ao longo dos anos. Pretende, então, à luz da razão, mostrar as incoerências gramaticais quanto do ensino posto em prático nas escolas sejam elas particulares ou públicas.
O que ele vê dentro de sala de aula é tentar-se anular diversidades lingüísticas que expressam diferenças e conflitos existentes entre grupos etários e éticos e entre classes sociais. Podemos entender que a gramática tem sido o objeto do ensino de português no Brasil e não a língua como deveria ser. Em conseqüências, estão sendo transmitidos aos alunos do Ensino Fundamental e em especial do Ensino Médio conceitos linguagens falhas.
Refletindo sobre esse ensino em prática pelas escolas públicas e particulares, verifica-se uma gramática lastimável que é encher a cabeça do estudante com algo inútil, confuso, incompleto o conhecimento teórico não contribui significativamente para o domínio da língua. Considerando a inutilidade desse conhecimento imposto pelo aluno como verdadeiro crime. Geraldi (1987, p.21) afirma que “O ensino da língua foi desviado para o ensino da teoria gramatical”.
Para Jurandir a função da escola é o ensino da língua padrão, não é com teoria gramatical que ela concretizará seu objetivo. Esses contrastes levam o estudante ao desinteresse pelo estudo da língua, pois quando pensa haver entendido o conteúdo trabalhado em sala de aula, amargura-se ao se deparar com determinadas construções, pois não consegue entender o enunciado, daí resultam as frustrações, reprovações, recriminações que começam pela própria escola e o preconceito lingüísticos de que não sabe português. Este resultado se obtém através do ensino centrado na Gramática Tradicional – o conhecimento se esvai por falta de sustentação cientifica: é como caminhar por sobre o lodo; não há firmeza nos passos dados e a queda é inevitável.
A Gramática tradicional é fruto de uma preocupação da escola em mostrar ao estudante a língua considerada padrão pela elite cultural que insiste em se pautar por modelos clássicos de século III a.C. Sabe-se que, através da história, a cidade de Alexandria, no Egito, foi considerada naquela época, importante centro da cultura grega. A grande literatura clássica da Grécia despertou o interesse dos estudiosos desse campo, pois estavam preocupados na presença da pureza da língua grega. Dessa forma nasceu a gramática que em grego significa “a arte de escrever”. As regras gramaticais foram criadas voltadas para o uso literário dos grandes escritores do passado, recebendo o nome de Gramática Tradicional.
Ao analisar os fenômenos lingüísticos, pode ressaltar dois equívocos fatais: o primeiro, consiste em separar rigidamente a língua escrita da falada; o segundo na forma de encarar a mudança das línguas que eles acreditavam ser uma corrupção, “decadência” também concebida por muita gente até hoje. Em função desses equívocos formou-se o “erro clássico” no estudo da linguagem que só foi enxergado no final do século XIX e no inicio do século XX com o surgimento da lingüística. Enquanto não houver uma proposta pedagógica capaz de eliminar esses equívocos ocorridos no ensino da língua e uma mudança substancial das motivações ideológicas que sustentam esse ensino mutilado, castrador, a gramática tradicional permanecerá como alvo critico preferido, embora se reconheça ser ela o ponto de referencia para o ensino Fundamental e Médio.
Para Jurandir deve-se utilizar a gramática no ensino de Língua Portuguesa, embora se saiba que ela em si não ensina ninguém a falar, contudo ajuda na medida em que se saiba separar o útil.
Conclui então, que a gramática não significa ser uma única fonte para o ensino de língua nas escolas e o professor deverá ser dinâmico e deixar de comodismo e procurar colocar boa quantidade de atividades de pesquisas que possibilitem o aluno a produzir o seu próprio conhecimento lingüístico. Assim o aluno passará a entender que as regras da norma culta são variáveis e que o emprego de uma forma pode ser normal numa modalidade lingüística também é necessário que os gramáticos e lingüísticos formem uma simbiose, para que haja espaço dentro de sala de aula para o ensino de “gramáticas” e que a elite cultural se conscientize de que houve mudanças profundas na língua padrão concebida pela gramática Tradicional e que no Brasil já não se fala o português de Portugal, e sim, o português brasileiro.

3. METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem bibliográfica. Este tipo de pesquisa tem como principal vantagem permitir ao investigador uma cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquele que poderia pesquisar diretamente. Esta vantagem se torna particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muitos dispersos pelo espaço (GIL, 1996).
Na primeira parte do trabalho fez-se uma pesquisa bibliográfica sobre a visão de autores como Leila Luar Samento e Douglas; José Nicola e Ulysses Infante; Luiz Antônio Sacconi; Hidelbrando A. de André que discorrem sobre gramática normativa e o ensino da gramática; Luis Carlos Travaglia trata do ensino de gramática na linguagem falada e Jurandir Marques Silva Júnior sobre o ensino da gramática no ensino médio. Em seguida elaborou-se uma pesquisa em forma de entrevista semi-estruturada com três professoras de língua portuguesa do Liceu de Sobral Dom Walfrido Teixeira Vieira, que fica localizado na Av. Paulo Sanford, Parque Silvana II.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS ENTREVISTAS

Entrevista 1
Nome: Francisca Mariza de Souza          Idade: 36      Tempo de serviço: 7 anos
Formação acadêmica: Superior completo
1) Você leciona a Língua Portuguesa utilizando qual gramática?
R: Reflexiva
2) O que faz para que seus alunos gostem da Língua Portuguesa?
R: Procuro encantá-los com atividades lúdicas e que promovem reflexão e lições práticas do uso da língua.

3) Como você corrige a fala de seus alunos?
R: Com humor para que não haja constrangimento e esclarecendo que não há fala errada.
4) Como você vê o uso de tantas palavras inglesas no cotidiano dos brasileiros?
R: Acho um ponto negativo e desvalorização da nossa língua.
5) No Brasil, se fala bem português? Se afirmativo diga em que região?
R: Não. Acho que nas capitais temos falantes que dominam mais.
6) Nós, brasileiros, respeitamos nossa língua?
R: Não. E a prova é o quanto está crescente os avanços dos estrangeiros e o aportuguesamento dessas palavras.

Entrevista 2
Nome: Patrícia Veléria Prado   Idade: 30    Tempo de serviço: 6 anos
Formação acadêmica: Letras Plena
1) Você leciona a Língua Portuguesa utilizando qual gramática?
R: Gramática Normativa e Reflexiva
2) O que faz para que seus alunos gostem da Língua Portuguesa?
R: Tento fazer com que eles gostem da língua portuguesa, através dos textos, literários e com prazer de dominar com qualidade sua própria língua. 
3) Como você corrige a fala de seus alunos?
R: De forma sutil, sem que eles percebam que estão sendo corrigidos, mas que eles reflitam sobre o erro.
4) Como você vê o uso de tantas palavras inglesas no cotidiano dos brasileiros?
R: No momento, isto acontece por conta da globalização, internet. È algo difícil de evitar, mas o professor deve tentar evitar isso em sala de aula.
5) No Brasil, se fala bem português? Se afirmativo diga em que região?
R: Se levarmos em conta as varias lingüísticas fica difícil de afirmar-mos qual região fala melhor, afinal todos irão dizer que o seu modo é mais correto que das outras regiões.


6) Nós, brasileiros, respeitamos nossa língua?
R: Penso que não, mas essa idéia é antiga, nós brasileiros sempre valorizamos o que não é nosso, e isso acontece também com nossa língua. Infelizmente, pois a nossa língua é muito rica.

Entrevista 3
Nome: Ana Renata Arcanjo Pinto   Idade: 28   Tempo de serviço: 6 anos
Formação acadêmica: Licenciatura Plena em Letras - Português
1) Você leciona a Língua Portuguesa utilizando qual gramática?
R: Textual
2) O que faz para que seus alunos gostem da Língua Portuguesa?
R: Um trabalho que tem como prioridade a Literatura (poesia, contos, etc.) Tão essencial ao processo de sensibilização.
3) Como você corrige a fala de seus alunos?
R: Não os corrijo, faço com que aprendam a adequar a linguagem à situação.
4) Como você vê o uso de tantas palavras inglesas no cotidiano dos brasileiros?
R: Um processo natural, o problema é quando se passa a usa-los em detrimento de palavras em português.
5) No Brasil, se fala bem português? Se afirmativo diga em que região?
R: Sim. Cada região tem suas particularidades e influências que devem ser considerada, assim não há como afirmar precisamente onde se fala melhor o Português.
6) Nós, brasileiros, respeitamos nossa língua?
R: Em geral não. Pois respeitar é valorizar, ter um sentimento pátrio sobre ela, como já disse Fernando Pessoa “minha pátria é a Língua Portuguesa”, a maioria das pessoas não entende dessa maneira.
Após receber as entrevistas respondidas pelas professoras passou-se a analisá-las.
Quando questionadas sobre o tipo de gramática utilizada pelas professoras estas responderam: reflexiva, normativa e textual.
Ao questionamento o que faz para os alunos gostarem do ensino da língua portuguesa as professoras responderam: promovem atividades, lúdicas, trabalham com textos literários e literatura como poesia, contos etc.
Quando questionadas se corrigem as falas dos alunos responderam: de forma sutil, com humor e não corrijo, faço com que aprendam as regras gramaticais correta.
O que pensam sobre o uso de tantas palavras inglesas no cotidiano dos brasileiros o que responderam como: ponto negativo, desvalorização de nossa língua, faz parte da globalização, um processo natural.
Enfim ao questionamento sobre o respeito pela língua portuguesa obtemos as seguintes respostas: Não. Acho que nas capitais temos falantes que dominam mais; penso que não, mas essa idéia é antiga, nós brasileiros sempre valorizamos o que não é o nosso, e isso acontece também com nossa língua. Infelizmente, pois a nossa língua é muito rica; Em geral não. Pois respeitar é valorizar, ter um sentimento pátrio sobre ela, como já disse Fernando Pessoa “minha pátria é a Língua Portuguesa”, a maioria das pessoas não entende dessa maneira.

5. CONCLUSÃO

Ao longo da minha carreira como professora que começou em 1977, antes mesmo de terminar o curso normal, identifiquei-me e me apaixonei pela disciplina de Português. Sempre fui apaixonada por leitura e isto me ajudou bastante para adquirir os conhecimentos que hoje possuo. Tive grandes mestres em língua Portuguesa tanto no ensino básico como no ensino Superior. Neste período pude perceber o quanto minha clientela precisava de minha orientação. Por se tratar da língua materna, todos deveriam buscar conhecimento para poder lapidá-la melhor e poder comunicar-se melhor também. Só que isto não acontece e nossa língua esta cada vez mais sendo misturada com outras línguas, perdendo assim a sua autenticidade.
Sempre li bastante, pesquiso e estudo os conteúdos que devo ministrar, mas muitas vezes encontro alunos dispersos e sem interesse, o que me deixa perplexa e até mesmo desmotivada. Ao conversar com colegas da área me encho de ânimo, pois temos muitos professores engajados e de compromisso com a profissão que levanta meu astral.
Comecei ensinando alunos de uma escola particular onde têm uma bagagem cultural mais elevada devido à convivência com seus familiares. Com estes, as dificuldade eram diferentes, pois eles tinham o que chamamos de “base”. Quando entrei na escola pública senti diferença como “água e vinho”. Além dos problemas culturais vinham outros de ordem social. Tive bem mais trabalho, mesmo porque, as escolas públicas nesta época tinham pouca qualidade e o governo não investia muito na educação. Agora está melhorando mas é como uma gota d’água no deserto. Muita coisa precisa melhorar a começar pelo salário dos professores.
Muitas escolas têm deficiência de material didático como livros para os alunos, bibliotecas para pesquisas e computadores com internet.
Os avanços estão chegando aos poucos nas escolas, mas falta mais investimento para a capacitação e reciclagem de professores de professores. Muitos continuam parados no tempo onde as mudanças estão acontecendo e estes continuam dando aulas de gramática com livros ultrapassados e métodos arcaicos.
O governo deveria investir mais nesta mão-de-obra tão preciosa e dá incentivos para que todos se atualizassem.
Às vezes, me questiono se a causa do desinteresse dos alunos é minha e verifico fazendo uma auto-avaliação procurando melhorar minha postura como orientadora de aprendizagem. Presto bastante atenção também na conduta de meus colegas e troco idéias para vê se meus alunos melhoram e eu consiga atingir meus objetivos. Por enquanto vou tentando fazer o que posso, pois minha pedagogia é o amor às letras e principalmente à nossa língua portuguesa.
Atualmente estou no ensino médio e minha clientela está abaixo do nível de aprendizagem. Há muita cobrança por parte do governo e das autoridades das escolas, mas pouco incentivo para professores. As escolas querem mostrar quantidade e não qualidade e ficam exigindo que os professores não reprovem ninguém e os alunos perdem até a motivação de estudar porque “no fim todos passam”.
Gostaria antes de encerrar minha carreira, olhar para trás e vê que meu jardim está bastante florido, pois cada aluno que estudou comigo conseguiu se tornar um cidadão responsável e um usuário competente da língua portuguesa.
Quanto a minha prática, em sala de aula no ensino de gramática procuro aplicá-la da melhor maneira possível, mostrando as regras como informação sem cobrança de decorá-las. Fazendo atividades de fixação usando textos e produções de textos e produções de textos e produções de textos feitos por eles, aliando  teoria à ´pratica. Sugiro que leiam obras clássicas de acordo com as escolas literárias que estão estudando, procurando assim enriquecer seus vocabulários.
Procuro usar pouco tempo no uso da gramática e mais tempo em leitura e produção de textos.
No magistério tenho como objetivo contribuir para que a educação no nosso país tome um grande impulso, onde os professores tenham compromissos com os alunos, visando melhorar nossa educação e assim melhorar também o Brasil tão cheio de problemas e com poucas opções de soluções.
Através da minha experiência como professora, atuando com crianças e jovens, posso comparar o desenvolvimento da aprendizagem de hoje e antigamente. Atualmente temos muito mais técnicas, estratégias e métodos, mas a tecnologia nas escolas públicas deixa a desejar. Enquanto em casa muitos alunos têm computador, videogame a sua disposição, na escola tem quadro de giz e livros. Nossas escolas precisam se modernizar mais e fazer com que os alunos sintam mais vontade de estar na escola do que em casa ou na rua. O governo deve investir mais na educação promovendo esportes, gincanas de redações com prêmios e deixar de usar verbas públicas em construções de cadeias para infratores de 18 a 20 anos.
Temos muito trabalho pela frente, principalmente em relação as sistema de avaliação que ainda é deficiente e evitar tanta evasão e repetência. Temos que nos organizarmos no sentido de acabar com o “bicho-papão” de provas e promover mais pesquisas para que nossos alunos estudem pelo prazer e curiosidade e não só para “passar de ano”. Sentido a importância da aprendizagem não só para si como para se tornar um cidadão digno e consciente de seu papel na sociedade.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DE NICOLA, José; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed., São Paulo: Scipione, 1997.

SARMENTO, Leila Laular; TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática, produção de texto.1. ed., São Paulo: Moderna, 2004.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática: Teoria e Prática. 25.ed., São Paulo: Atual Editora, 1999.
ANDRÈ, Hildebrando A. de. Gramática Ilustrada. 5. ed., São Paulo: Moderna, 1997.

TRAVAGLIA. Luiz Carlos. Os avanços nos estudos da língua falada. Entrevista concedida em março de 2005 por Artarxerxes Modesto. Disponível em: <http://www.ileel.ufu.br > Acesso em: 29 jan. 2008.

SILVA JÚNIOR, Jurandir Marques, Qual gramática ensinar no ensino médio normativa ou textual?


[1] Monografia apresentada à Universidade Estadual Vale do Acaraú como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Língua Portuguesa e Literatura.
[2] Aluna do Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
[3] Professor coordenador e orientador do Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.

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