sábado, 6 de outubro de 2012

O EMPREGO DO HÍFEN EM COMPOSTOS, LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES DE ACORDO COM A NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA.




* Natália Rodrigues Sousa.

            Este artigo tem por finalidade principal fazer um paralelo entre o uso do hífen em palavras compostas, locuções e encadeamentos vocabulares antes e depois da reforma ortográfica e com isso percebermos o que ficou igual e o que mudou com relação ao emprego desse sinal nessas palavras.
  
O presente trabalho apresenta as novas regras do emprego do hífen em palavras compostas, locuções e encadeamentos vocabulares de acordo com a reforma ortográfica que já foi aprovada e deve entrar em vigor em 1º de Janeiro de 2009. Ao longo desse artigo vamos notar em quais palavras podemos usar ou não o hífen e também percebermos se as novas normas ajudarão ou não o aluno a empregar corretamente o mesmo, uma vez que há inúmeras regras e que acaba muitas vezes nos confundindo.
Segundo o dicionário Luft (2001,p.368), o hífen é: “Tracinho (-) usado para sinalizar palavras compostas (amor-perfeito), unir pronomes átonos a verbos (dar-te, dar-te-ei) e separar palavras em mudanças de linha (língua-/gem)”. As palavras compostas de acordo com Campedelli e Souza (2001,p.439) são: “ Consiste na formação de vocábulos mediante a reunião de dois ou mais radicais em um só todo, com significação própria”. Dessa forma, as palavras compostas são aquelas que têm mais de um componente com significado independente em sua formação. Conforme a Wikipédia (2008) a locução é: “Locução é uma frase ou  um grupo de palavras que equivale a uma palavra”. Já os encadeamentos vocabulares são seqüências de palavras que podem vir ou não acompanhados por hífen, como por exemplo: pé-de-moleque, planalto.

O emprego do hífen antes da reforma ortográfica
Segundo Maia (2003, p.20), o emprego do hífen é matéria extremamente complexa e mal disciplinada pelo Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, sobretudo no que diz respeito ao uso desse sinal em palavras formadas por prefixação. Para quem escreve, o emprego do hífen é um autêntico quebra-cabeça. Vejamos os casos em que podemos usar o hífen:
Em compostos cujos elementos conservam sua autonomia fonética e acentuação própria, mas perderam sua significação individual para constituir uma unidade semântica, um conceito único, como por exemplo: água-marinha, guarda-pó, quinta-feira, corre-corre, sempre-viva, água-de-colônia, capitão-de-mar-e-guerra.
Podemos usá-lo para ligar pronomes enclíticos e mesoclíticos a formas verbais, à palavra “eis” e aos pronomes “nos” e “vos”, como nos seguintes exemplos: vê-los-ás, dir-se-ia, dava-se-lhe, ei-lo, no-lo, amá-la.
Empregamos esse sinal nos adjetivos compostos: anglo-latino, sino-japonês, rio-grandense, mato-grossense, verde-amarelo, à-toa, cor-de-rosa, sem-vergonha, sem-par. Utilizamos também em vocábulos formados pelos sufixos açu, guaçu, mirim, se o elemento anterior acaba em vogal acentuada (andá-açu, sabiá-guaçu, cajá-mirim) ou quando a pronúncia o exige (capim-açu).
Usamos o hífen nos compostos de bem, sendo que é antes de palavras que têm vida autônoma e quando a pronúncia o requer, como bem-querer, bem-vindo, bem-estar, bem-amado, bem-aventurado. Ainda o empregamos em vocábulos formados por prefixos que têm acentuação própria (tônicos) ou evidência semântica, como nos seguintes exemplos: recém-nascido, sem-cerimônia, pré-escolar, além-mar.
Vejamos agora os casos em que não podemos empregar o hífen:
Não usamos esse sinal sempre que se obliterou a consciência da composição da palavra, o que acontece quando um elemento se adaptou foneticamente ao vizinho ou perdeu a sua vida autônoma, como: aguardente, girassol, madrepérola, sobremesa.
Vale ressaltar que não o utilizamos quando o prefixo pode ser aglutinado sem prejuízo da clareza ou sem promover pronúncias errôneas, como em: subdiretor, aeroporto, bioquímico, anticomunista, antevéspera, superlotado, semibárbaro. Também não o usamos nas locuções, como por exemplo: um a um, de vez em quando, à toa, a fim de.  
Notamos ainda que não podemos empregá-lo em expressões do tipo: estrada de ferro, doce de leite, cor de café, anjo da guarda, relógio de bolso, farinha de trigo e também com o radical “rádio”: rádio ouvinte, radiopatrulha, radiocomunicação.
Podemos perceber que são muitos os casos em que podemos ou não utilizar o hífen, por isso para sabermos usá-lo, é preciso estarmos atentos às regras.

O emprego do hífen depois da reforma ortográfica.

O novo acordo ortográfico estabeleceu novas regras sobre o uso do hífen, entre elas está o uso do mesmo em palavras compostas, locuções e encadeamentos vocabulares. Vejamos o que José Pereira (2008) afirma a respeito do emprego do hífen nessas palavras:

Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contém formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetiva, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzindo: ano-luz, arce-bispo, arco-íres, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-Cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto, alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano, afro-asiático, cifro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira, conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.

Podemos notar que essas regras em palavras compostas que têm unidade sintagmática e semântica e acento próprio continuam igual às regras anteriores, não mudou o emprego do hífen nessas palavras.
José Pereira afirma que não usamos hífen em palavras compostas que não têm mais sentido de composição, como por exemplo: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista. Nesse caso essas palavras sofrem o processo de aglutinação, ou seja, os radicais se modificam e se fundem de tal maneira que a composição fica aparente irreconhecível.
Empregamos o hífen segundo o autor nos topônimos/ topônimos compostos que  começam pelos grã, grão, e também em  formas verbais e ainda em palavras unidas por artigo, como por exemplo: Grã-Bretanha, Grão-Pará, Abre-Campo, Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes. Entretanto existem topônimos/topônimos compostos que não usamos hífen, como América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta. Mas o topônimos/topônimos Guiné-Bissau não segue essa regra,  sendo portanto, grafado por hífen.
Usamos o hífen, conforme o autor, nas palavras compostas que indicam espécies botânicas e zoológicas que estejam ou não unidas por preposição ou qualquer outro elemento, como: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde, benção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio, bem-me-quer, andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca, andorinha-do-mar, cobra-d’água, bem-te-vi.  
O autor fala que utilizamos esse sinal, ou seja o hífen, nos compostos com os advérbios “bem” e “mal”, quando os mesmos formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. porém o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Veja os exemplos: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado, mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado, bem-criado, (malcriado), bem-ditoso, (malditoso), bem-falante, (malfalante). Podemos perceber que quando bem é o contrário de mal se a palavra é iniciada por consoante não usamos hífen.
Vale comentar que em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte, nesse caso não usamos hífen, como nos exemplos: benfazejo, benfeitor, benquerença.
De acordo com José Pereira empregamos o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém, e sem: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras, recém-casado, recém-nascido, sem-número, aquém-fiar. Percebemos que o uso do hífen com esses elementos continua igual à norma anterior.
Não se emprega em geral o hífen nas locuções de qualquer tipo, quer sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, mas há algumas exceções nas quais podemos usá-la como é o caso de água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa.
Vejamos os seguintes exemplos de emprego sem hífen nas locuções:
Na substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar. Nas adjetivas temos: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho. Nas pronominais: Cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer seja. Nas adverbiais: à parte, à vontade, depois de amanhã, em cima, por isso. Nas prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, afim de, apesar de, por cima de. E ainda nas conjuncionais: afim de que, ao passo que, logo que, visto que.
O hífen é empregado ainda para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando encadeamentos vocabulares, temos como exemplos: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, a ligação Angola-Moçambique, e também nas combinações históricas ou ocasionais de topônimos/topônimos como Áustria-Hungria, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro.

Conclusão

Podemos perceber que a nova reforma ortográfica trouxe muitas mudanças para a nossa língua portuguesa, como por exemplo: o trema deixará de existir, sendo que ele só vai ser usado em nomes próprios, o acento agudo não será mais usado em palavras terminadas em eia e oia, como ideia, assembleia, jiboia, os verbos crer, dar, ler e ver, não terão mais acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo, ficando portanto, da seguinte maneira: creem, deem, leem e vêem.  No caso do emprego do hífen em palavras compostas, locuções e encadeamentos vocabulares as regras continuam iguais às normas anteriores. Logo não teremos dificuldades em usar o hífen, basta ficarmos atentos.

Referências Bibliográficas

CAMPEDELLI, samira yousseff; SOUZA, Jésus Barrosa. Português: Literatura, Produção de Textos e Gramática. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
Dicionário Luft. Brasília: Ática, 2001.              

MAIA, Raul. Educa: Programa de Estudo e Pesquisa: Gramática Normativa. São Paulo: Difusão Cultural do Livro, 2003.

PEREIRA, José. A nova reforma ortográfica. Disponível em Internet: http: //WWW.filologia.org.br. Acessado em 11/5/2008.

WIKIPÉDIA, http://pt.wikipedia.org/wiki/m%c3%a9todo.  Acessado em 7/9/2008

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