sábado, 6 de outubro de 2012

DESAFIOS, PROBLEMAS PARA O ENSINO DA ORTOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA



Cileya de Fátima Neves Moreira¹
Maria Elizania Clares Sousa²


Resumo: Considerando o Novo Acordo Ortográfico entre Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, pretendemos abordar alguns desafios e problemas para o ensino da ortografia na Educação Básica. Nesse trabalho servimo-nos de dois artigos: “A guerra dos métodos de alfabetização”, de autoria do Professor Vicente Martins e  “O tratamento de regras de variação e mudança.” de Stella Maris Bartoni-Ricardo,  elencando trechos homogêneos além de uma breve abordagem no âmbito do Plano de Desenvolvimento da Educação.

Palavras-chave: Ensino da ortografia, Educação Básica, Novo Acordo Ortográfico.

Dentre as ações voltadas para assegurar a qualidade da Educação Básica, o Ministério da Educação – MEC, no âmbito do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, tem como um dos seus eixos prioritários a gestão democrática da educação que implica promover autonomia da escola para deliberar acerca de assuntos que lhe são atinentes, bem como sobre o projeto pedagógico mais adequado ao contexto da comunidade em que a escola está inserida.
Nessa perspectiva é inquestionável a importância da abordagem que as escolas devem adotar para conseguir desenvolver no aluno a capacidade de codificar e recordar palavras corretas ou formas lingüísticas socialmente aceitas, enfocando exatamente os primeiros contatos sistemáticos dos falantes com a língua escrita, ocorrido nas séries iniciais. Ressalva-se que nessa fase inicial da aprendizagem, a competência essencial a ser desenvolvida á a da decodificação de palavras, o que por sua vez implica em um processo fonológico. Nesse momento também acontece o processo de alfabetização, que estudiosos conceituam como: Métodos analíticos ou construtivistas e, sintéticos ou fônicos.
Tais formas de alfabetização são discutidas, há pelo menos, um século, tanto no Brasil como na Europa, caracterizando um grande desafio a escolha de um deles.
MARTINS³, em seu artigo entende que:

“A peleja dos métodos de alfabetização está bem polarizada: métodos fônicos de um lado, do outro, os construtivistas. Os métodos fônicos também são conhecidos por métodos sintéticos ou fonéticos. Partem das letras (grafemas) e dos sons (fonemas) para formar, com elas, sílabas, palavras e depois frases.
São vários modelos de métodos fônicos. Entre eles, o mais antigo e mais consistente, em termos de pedagogia da alfabetização em leitura, é o alfabético ou soletração, que consiste em primeiro ensinar as letras que representam as consoantes e, em seguida, unir as letras-consoantes às letras-vogais.
Os modelos alfabéticos de alfabetização em leitura, por seu turno, partem das sílabas para chegar às letras e aos seus sons nos contextos fonológicos em que aparecem. As cartilhas de ABC, durante muito tempo encontradas em mercearias ou bodegas ou mesmo mercados, eram o principal material didático e contavam com a presença forte do alfabetizador que acreditava que, pelo caminho da repetição das letras e dos seus sons, o aluno logo chegaria ao mundo da leitura.
Os métodos construtivistas de alfabetização em leitura, também chamados analíticos ou globais partem das frases que se examinam e se comparam para, no processo de dedução, o alfabetizando encontrar palavras idênticas, sílabas parecidas e discriminar os signos gráficos do sistema alfabético.”


Já MARIS, na nota de rodapé de seu artigo explica:


Na discussão já tradicional sobre métodos de alfabetização, são identificados dois tipos de métodos: os analíticos, também denominados métodos de cima para baixo, que partem do texto para as unidades menores, e os sintéticos, cuja lógica segue um procedimento de baixo para cima, ou seja, das unidades menores, como a relação fonema-grafema, para as maiores.”

Outro desafio considerável para o ensino da ortografia, que vai além da mera qualificação do professor, é o aprofundamento nos conhecimentos linguísticos.

“o professor tem que entender o porquê de cada procedimento, em seu trabalho pedagógico de alfabetização.” Isabel Frade (2005). Pesquisadora do Ceale (Centro de Aquisição e Letramento).

Reforçado também com a colocação do Professor MARTINS:

“O grande desafio dos docentes ou dos pedagogos da leitura é, tendo conhecimento de Lingüística e Alfabetização, levar os alunos a entenderem, ao longo do processo de alfabetização, as noções de fonema e grafema.”

       Quanto aos problemas, identificamos os processos de alfabetização desenvolvidos nos demais países multilíngues lusófonos africanos onde a língua, nas escolas, é o português mas a maioria das crianças não o tem como língua materna. Ou seja, elas tem que simultaneamente, aprender a língua estrangeira e adquirir as habilidades de decodificá-las, na leitura e na escrita, sem o apoio da sua competência na língua oral.

       No caso brasileiro, temos uma situação infinitamente mais favorável à aprendizagem,  pois a grande maioria das crianças que chega às escolas já é falante competente do português como língua materna.

“Estamos tão acostumados com a dupla condição de língua majoritária do português no Brasil e de principal veículo de expressão das culturas letradas no país, que nem sempre paramos para pensar que os saberes de oralidade – que a grande maioria dos nossos alfabetizandos já detêm, quando chega à escola – são um capital simbólico de muita importância no processo de alfabetização da população brasileira.”

Outro fator que apontamos como problemático, está relacionado a própria formação dos profissionais (do Curso de Letras e/ou Pedagogia) que atuam ou almejam atuar, perfeitamente descritos no trecho de MARIS, Stella:

Agregando à nossa premissa a idéia de que as chaves para o processo de alfabetização são a decodificação de palavras e a compreensão do código alfabético, e, considerando, ainda mais, que, para cumprir esses requisitos iniciais, é necessário que o leitor noviço se familiarize com o processamento fonológico das palavras, segue-se, como um corolário, que a aquisição da consciência fonológica tem de estar no fulcro da reflexão sobre os métodos de alfabetização adotados no país e sobre as teorias que lhes dão sustentação. Isso é de suma importância, porque, no Brasil, convivemos com um paradoxo: os cursos de Letras, onde os alunos têm oportunidade de se familiarizar com o sistema fonológico do português, não costumam dedicar-se à formação de alfabetizadores; seus currículos são voltados para o ensino da língua no ciclo final do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Por sua vez, o Curso de Pedagogia e o Curso Normal Superior, embora assumam a responsabilidade da formação dos alfabetizadores, não incluem em seus currículos disciplinas de Lingüística Descritiva que possam fornecer aos futuros alfabetizadores subsídios que lhes permitam desenvolver uma consciência lingüística, ou, mais propriamente, uma consciência fonológica.

Portanto, sabemos que o ensino em nosso país carece de melhorar muito, tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo. Cabe então, a escola através do seu núcleo gestor, refletir sobre a forma de como fazer uso desses meios, apoiando-se na competência linguística que os alunos possuem, para tornar mais fácil e eficiente a aprendizagem da língua escrita e consequentemente a eficiente decodificação às adequações ortográficas vigentes.

Referências:

BORTONI-RICARDO, Stela Maris. SCRIPTA, v. 9 n.18, p.201-220. 2006. Artigo: Métodos de Alfabetização e conciência fonológica: o tratamento de regras de variação e mudança.

MARTINS, Vicente. Artigo: A guerra dos métodos na alfabetização. Disponível em: Vicente.martins@uol.com.br . Acesso em 03.jun.2006













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