ZORAIDA MARIA PASSOS RODRIGUES
O neologismo é, em suma, uma presença
inevitável na língua viva. Enquanto alguns são resultados de "pura
inventividade popular" (casos de apoiamento, pesquisismo...),
outros decorrem de "inspiração literária" (como na frase de Guimarães
Rosa "A gente vive, eu acho, é mesmo pra se desiludir e desmisturar”).
O léxico de uma língua não é homogêneo: usamos palavras típicas da língua
falada, palavras típicas da língua escrita, palavras técnicas, palavras antigas
e palavras novas. Estas, chamadas neologismos, são os reflexos de como a língua
acompanha as inovações da nossa sociedade. Ao estudá-los, estamos analisando
não só os processos de formação de novas palavras como também a evolução dessa
sociedade. Dependerá dos falantes da língua a aceitação, isto é, a adoção dessa
inovação, fato que levará à mudança na língua. Essas fases (inovação, adoção e
mudança) confundem-se pelo fato de que quando tomamos consciência da inovação
ela já foi adotada pelos falantes e, portanto, já ocorreu a mudança. Em Vidas
secas, buscamos investigar os mecanismos e recursos lingüísticos populares
empregados na língua Portuguesa brasileira. Salientamos a importância
principalmente sobre o aparecimento de neologismos criados pelo autor em sua
obra que é uma grande realidade na nossa língua pelas pessoas que não são
letradas, mas que têm uma linguagem humana, viva, que identifica o Brasil e,
como tal, permanece até os dias atuais com suas mudanças e inovações e não
envelhecem com o decorrer dos tempos, mas sim, inova.
1. INTRODUÇÃO
Neste artigo, propomo-nos
a fazer uma análise da formação neológica
presente neste corpus. Pelo estudo que foi feito, constatamos que os
neologismos em Vidas Secas
servem como exemplo para a caracterização das palavras da nossa sociedade ainda
hoje presentes na linguagem. Vimos que a linguagem humana é mutável, e a
expressão dessa mudança está em constante transformação e é realizada através
dos neologismos que fazem com que o acervo lexical de todas as línguas se
renove. Enquanto algumas palavras se tornam arcaicas, outras são criadas, ou
até mesmo responsáveis pela nova criação de palavras.
Os estudos
formalistas têm demonstrado que é essa simultaneidade entre a manutenção da
tradição e a ruptura da tradição que forma a essência de toda inovação em arte. Essa expressão,
por sua vez, comprova a questão da inovação das palavras e do estudo neológico.
Este
(trabalho toma como base, principalmente, o estudo feito por ALVES (1990)),
pela fundamentação teórica realizada, a conceituação de neologismo converge
para a idéia de renovação do acervo lexical das línguas. A neologia é o
processo de criação lexical, tendo como resultado o Neologismo (a palavra nova
ou uma nova acepção para essa palavra). O neologismo pode ser formado por
mecanismos oriundos da própria língua, ou por processos léxicos provenientes de
outros sistemas lingüísticos.
As formações
neológicas deste artigo seguem a classificação proposta por ALVES (1990):
neologismo fonológico, neologismo semântico, neologismo sintático(derivação
sufixal, derivação parassintética, composição subordinativa, composição
coordenativa, composição satírica, composição sintagmática, composição por
sigla ou acronímica), neologismo formado por empréstimo, conversão, truncação,
palavra valise, derivação regressiva.
Quando ocorre a
dicionarização da nova palavra ou dos novos significados, a palavra deixa de
ser neológica, pelo menos esse é o princípio seguro da inclusão dessa nova
palavra ou novo significado no vocabulário de uma língua. Em nosso corpus de
estudo há a presença predominante da língua popular, que deve ser respeitada já
que é de conhecimento de todos independente da classe social.
O objetivo deste artigo
é analisar os processos neológicos
na obra de Graciliano Ramos: Vidas Secas.
_ Compreender os aspectos lexicais no corpus em questão.
_ Investigar os
processos de neologismos populares
presentes na obra.
_ Averiguar os
processos fonológicos, derivacionais, composicionais, etc., no mesmo corpus.
Com estes objetivos
estaremos investigando quais os processos fundamentais no corpus em análise e
se estes processos são os mesmos descritos pelos estudiosos do assunto em
pauta.
Estudamos os neologismos em Vidas Secas para
verificarmos inclusive semelhanças ou diferenças com as palavras que ainda hoje
cogitam na nossa língua e que foram tão bem colocadas por Graciliano Ramos
retratando muito bem a realidade dos neologismos popular nordestino e, o
educador tem um papel de suma importância como articulador e nós temos que
perceber que a educação e a cultura são essenciais no processo de socialização
entendido como respeito à linguagem, sabemos que ela é dinâmica e mutável, que
precisamos dela com suas significações e constantes modificações e é em busca
dessa discussão da língua não ser imutável, sua variação conforme as
circunstâncias, enfatizamos essas mudanças e alterações que regem nossa
história como presença de neologismo nessa
obra de uma estética modernista que caracteriza a região nordestina, onde
apresenta uma série de palavras que são neologismos e que ainda hoje, no século
XXI, predomina os traços regionalistas que têm grande ênfase na nossa
literatura, principalmente através de sua linguagem.
Apresentamos uma sucinta introdução, onde orientamos o leitor para a
organização do artigo, as principais fontes de pesquisa, os objetivos e a
justificativa deste trabalho. A fundamentação teórica foi feita conceituando
Neologia e Neologismo, Neologismo da História da Língua Portuguesa e os
Processos Neológicos. Nesta fase procuramos dar embasamento teórico à Análise
do Material Coletado, os neologismos na língua viva por qualquer língua do mundo
na obra de Graciliano Ramos, Vidas secas. Na averiguação do corpus, fizemos à classificação dos
tipos e Processos Formadores de Neologismos, e na Conclusão, colocamos o
resultado da análise dos dados referente à pesquisa.
A neologia lexical é o estudo da origem da palavra ou do conjunto de
palavras, de sua produção e aparecimento. É importante observar que toda
palavra foi um dia neologismo. A neologia é o processo de criação lexical e a
palavra que resulta desta criação chama-se neologismo. Segundo ALVES (1990), o léxico português,
durante sua história, vem sendo ampliado por dois processos principais, a
derivação e a composição. A mesma autora cita Matoso Câmera que, em seu
dicionário de Lingüística, considera o neologismo, uma inovação que se firma em
determinada língua, podendo tratar de um neologismo vocabular, isto é, vocábulo
novo ou de um novo tipo de construção frasal, ou seja, neologismo sintático. ALVES (1990) também cita Biderman que
diferencia dois tipos de neologismos: o neologismo conceptual e o formal: no
primeiro caso,teríamos uma nova acepção que se incorpora no campo semântico de
um significante ou
mesmo através de uma conotação nova dada a uma palavra.
O neologismo formal constitui uma palavra nova a ser introduzida no idioma,
podendo ser vernáculo ou estrangeiro.
A mudança lingüística é fenômeno que corresponde às necessidades da
comunidade dos falantes que podem ser de ordem social ou técnica. A criação de
novos objetos sempre precederá a criação de novos itens lexicais que os
dominarão. Por isso, sempre que se faz necessário nomear um objeto ou uma
idéia, um novo termo é criado ou um termo já existente passa a ser empregado
com novo significado.
A renovação lexical de todas
as línguas é um fato inquestionável. Na história de uma língua muitas palavras
são esquecidas e outras são criadas para a renovação e amadurecimento dessa
língua. Segundo (ALVES, 1990 p.05):
“O acervo lexical de todas as línguas
vivas se renova. Enquanto algumas palavras deixam de ser utilizadas e tornam-se
arcaicas, uma grande quantidade de unidades léxicas é criada pelos falantes de
uma comunidade lingüística”.
Ao processo de renovação
lexical, dá-se o nome de neologia. Já o resultado dessa transformação,
denomina-se neologismo. Segundo Alves (idem):
“O neologismo pode ser formado por mecanismos oriundos da própria língua,
os processos autóctones ou por itens léxicos provenientes de outros sistemas
lingüístico. Na Língua Portuguesa, os dois recursos têm sido amplamente empregados,
diacrônica ou sincronicamente”.
Os estudiosos sobre o assunto não divergem muito quanto a conceituação
de neologia e neologismo. No dicionário Aurélio (1988:453), encontramos as
seguintes definições:
a) Neologia:
emprego de palavras novas, ou de novas acepções.
b) Neologismo:
palavra, frases ou expressões novas, ou palavra antiga com sentido novo.
O léxico de uma língua não é
homogêneo: usamos palavras típicas da língua falada, palavras típicas da língua
escrita, palavras técnicas, palavras antigas e palavras novas. Estas, chamadas
neologismos, são os reflexos de como a língua acompanha as inovações da nossa
sociedade. Ao estudá-los, estamos analisando não só os processos de formação de
novas palavras como também a evolução dessa sociedade.
A história da Língua Português nos revela que o léxico português é de
origem basicamente latina. A ampliação desse léxico se faz por meio de
mecanismo oriundos do latim: a derivação e a composição. (ALVES, 1990:05)
Além recursos, os recursos, os empréstimos lexicais também foram muito
importantes na ampliação do léxico português: celta, bárbara, árabe, africana,
espanhola, francesa, inglesa, etc. Essas culturas influenciaram muito na Língua
Portuguesa.
Com a decadência dos Romanos na Idade Média, conseqüentemente a língua latina
também foi abalada, assim outros povos através de suas culturas nos
influenciaram (o francês, o italiano, o inglês, etc.).
O contato da Língua Portuguesa como a cultura indígena aqui no Brasil,
influenciou bastante para o enraizamento da Língua portuguesa em nosso
território.
Entre os literários
mais destacados na criação de novos itens léxicos, como o grande Graciliano
Ramos, pode citar outros: Monteiro Lobato, Cruz e Souza, Carlos Drummond de
Andrade, Cassiano Ricardo, etc.
A ampliação e atualização da linguagem é uma
realidade expressa através dos neologismos.
De acordo com ALVES (1990) os
neologismos podem ser de vários tipos: fonológicos, sintáticos, semânticos, por
conversão, por empréstimos de línguas estrangeiras, truncação, palavra-valise,
reduplicação e derivação regressiva.
CARVALHO (1983) faz o
seguinte esquema de classificação dos neologismos: neologismos conceituais
(semânticos), neologismos formais, neologismos técnicos e empréstimos.
Em nosso trabalho, embasamo-nos, principalmente, na classificação de ALVES (1990).
A Neologia Fonológica indica
a criação de um item léxico cujo significado seja totalmente inédito, isto é,
tenha sido criado sem base em nenhuma palavra já existente.
Esse tipo de neologismos também é realizado através da criação
onomatopaica, ou seja, palavras formadas
a partir de uma relação não totalmente arbitrária, pois há motivação entre o
significante e o significado. A Onomatopéia
procura reproduzir um som, o que impossibilita que seu significante seja
imotivado.
Muitas vezes acrescentamos significados a determinadas palavras sem que
elas passem por qualquer processo de modificação formal. O neologismo semântico
é um novo significado que se atribui a uma palavra sem necessidade de alteração
em sua forma escrita. ALVES
(1990:14) nos fala sobre a ocorrência mais usual desse tipo de neologismo:
“O neologismo semântico mais usual
ocorre quando se verifica uma. mudança no conjunto dos semas referentes a uma
unidade léxica. Por meio dos processos estilísticos da metáfora, da metonímia,
da sinédoque...vários significados podem ser atribuídos a uma base formal e
transformam-na em novos itens lexicais”.
O neologismo semântico é
gerado a partir da articulação significante e significado recente, ou seja,
conserva-se a expressão do signo-base do qual é atribuído um novo conteúdo. É a
criação de um novo elemento a partir de uma transformação semântica manifestada
num item lexical.
Os neologismos sintáticos supõem a combinatória de elementos já
existentes no sistema lingüístico português. Classificados ALVES (1990:14) em “derivados, compostos, compostos sintagmáticos e
compostos formados por siglas ou acronímicos”.
São sintáticos “porque a
combinação de seus membros constituintes não está circunscrita exclusivamente
ao âmbito lexical (junção de um afixo ou de sufixos pode alterar a classe
gramatical da palavra-base: a composição
tem caráter coordenativo e subordinativo;
“Os integrantes
da composição sintagmática e acronímica constituem componentes frásicas com de
uma unidade lexical”. (idem) É a combinatória de elementos já existentes no
sistema lingüístico. Neste processo, estaríamos neologismos formados por
derivação prefixal e
derivação
sufixal, composição sintagmática e composição por siglas ou acronímica. A
conversão ou derivação imprópria é um
tipo de formação lexical pelo qual uma unidade léxica sofre alterações em sua
distribuição sem que haja manifestação de mudanças formais.
Consistem no processo
que se caracterizam pela junção de afixos (prefixos e/ ou sufixos), elementos
mais produtivos na formação derivacional, a uma base para a formação de
palavras.
A derivação
classifica-se em:
Derivação Prefixal – A derivação prefixal é um processo extremamente
produtivo português
contemporâneo. Ao unir-se a uma base, ou radical da palavra exerce função de
acrescentar-lhe variados significados.
Os prefixos são partículas independentes ou não-independentes que,
antepostos a uma palavra-base, atribuem-lhe uma idéia acessória, pequenez,
repetição, procedência, tipologia, etc., alterando ou não a classe gramatical
da base a que se juntam. Ex: desinformação, desigual, depredar,
reação, etc.
Derivação Sufixal – Através da derivação
sufixal, o sufixo, elemento de caráter não-autônomo (ALVES, 1990) e recorrente, atribui à palavra-base a que se associa
uma idéia acessória e, com freqüência altera-lhe a classe gramatical.
Ex: bebedouro, penosamente, perneiras, etc.
A derivação prefixal e
sufixal pode ocorrer simultaneamente em uma mesma palavra, e essa palavra pode existir ao se retirar um
desses afixos. É o que ocorre na palavra insensibilidade. No entanto, quando um desses afixos não
pode ser retirado trata-se da derivação parassintética (emagrecer).
O processo de composição
consiste na união de bases autônomas ou não-autônomas. O Neologismo funciona
morfológica e semanticamente como um único elemento. As várias classes de
palavras que se unem revelam caráter subordinativo ou coordenativo (ALVES, 1990).
a)
Composição subordinativa – quando uma base exerce a
função de determinado e a (s) outra (s) determinante (s). Essas bases estabelecem
relação de subordinação.
Ex: tiracolo, barbicacho, etc.
b)
Composição coordenativa – As bases que formam esse tipo
de composição se relacionam pela justaposição de substantivos, adjetivos ou
elementos de outra classe gramatical. As
bases se unem coordenativamente. Ex:
rítmico-harmônico, pontapé,
extraordinário,
etc.
Quanto a composição
sintagmática, consiste numa integração frasal em que seus membros constituintes
se ligam numa relação tanto sintática, morfológica quanto semanticamente.
ALVES (1990:50-51)
diferencia a composição sintagmática das demais composições:
A composição sintagmática nominal
caracteriza-se por determinar uma ordem constante a suas unidades formadoras: à base determinada segue-se a determinante,
que pode ser introduzida por uma preposição.
No interior do sintagma, os componentes do item léxico conservam as relações
gramaticais características da classe a que pertencem, entre a unidade léxica
constituída por composição propriamente dita e a formada por composição sintagmática existem
diferenças: A ordem de apresentação da unidade sintagmática é sempre a do
determinado seguido de determinante, o que nem sempre se verifica no elemento
composto: além disso, o item léxico composto pode obedecer a regras próprias
quanto à flexão em gênero e em
número. Já os membros integrantes do composto sintagmático
conservam as peculiaridades flexionais de suas categorias de origem.
Exemplos
de composição sintagmática: Vidas secas, cambada de cachorros, meias de
Algodão,
obras-primas.
Em relação a composição
satírica, consistem na associação de bases providas dos mais variados matizes
semânticos com a finalidade de despertar a atenção do leitor (receptor).
Ex: lagoa torrada –
lagoa seca
Pé de pau – árvore
Já a composição por sigla
ou acronímica, resulta na lei de economia discursiva. Ocorre quando um sintagma
é reduzido à suas letras ou sílabas iniciais.
A sigla é formada a partir das iniciais maiúsculas dos elementos do
composto. Já a acronímica assume sua
forma de modo silabado, decorrente da união de algumas letras e /ou sílabas do
sintagma.
Exemplo de siglas: RJ, VS,
GR, UFC.
Exemplo de acronímica:
UECE, UVA, RECORD.
A Conversão é denominado
também de derivação imprópria. Consiste na mudança da categoria gramatical da
palavra, sem sofrer alteração na sua estrutura formal.
CARVALHO (1983:100) faz uma citação de CUNHA a respeito desse processo: por este processo formam-se novos
substantivos, adjetivos, advérbios.
Ex: os negros dos
urubus. ( adjetivo funcionando como
substantivo)
Os processos chamados
empréstimos se referem às bases da língua português. No entanto, o léxico de um
idioma se amplia também com o contato entre as comunidades lingüísticas (CARVALHO, 1983:124):
“O empréstimo não é uma inovação,
mas uma adoção. Atualmente, a língua que tem mais influência sobre o português
é o inglês”.
Por fim, o estrangeirismo
consiste na adoção de um item léxico, oriundo de uma outra cultura.
Existem também outros
processos como truncação, ele consiste na abreviação de uma parte da seqüência
lexical, feralmente a final é eliminada.
Ex: Euro - forma reduzida
de europeu
A palavra valise, é um tipo de redução
que consiste na eliminação da parte final de duas bases para constituírem um
novo item léxico.
Ex: Brasigaio – formado a
partir da união das bases substantivo brasileiro e paraguaio.
Showmícios – formado a partir da
união das bases substantivas show e comício.
2.
A Análise do Material Coletado
2.1. Criações Neológicas
O corpus desta pesquisa foi
dividido de acordo com o tipo de neologismo e o processo formador. Os itens léxicos, presentes neste artigo,
foram todos coletados da obra de Graciliano Ramos: Vidas secas.
2.2. Tipos e Processos Formadores de Neologismos
a)
Neologismos Fonológicos
No corpus apresentam-se como
neologismos fonológicos: chiava, estalava, chape-chape, badalos, eco,
tilintando. Reproduzem sons onomatopaicos.
(1)
“O preá chiava em cima das brasas.” (pág.16)
Chiava – a palavra chiava tenta
reproduzir o som da carne de preá assando em cima das brasas.
(2)
“A fogueira estalava”. (pág.16)
Estalava - produzir estalo em:
estralar. Verbo; sentido de
prosopopéia.
(3)
“As alpercatas dele faziam chape-chape”.
(pág.17)
Chape-chape - agitar o chinelo na terra
ou na lama; barulho do chinelo ao andar.
Substantivo;
palavra onomatopaica.
(4)
“(...) os badalos dos chocalhos que lhe pesavam no ombro batiam surdos”. (pág.17)
Badalos - som produzido pela pancada do
pedaço de metal no chocalho. Substantivo.
(5)
– Eco! Eco! (pág. 21)
Eco-som produzido ao bater palmas. Substantivo.
(6)
“(...) as rosetas das esporas tilintando”.
(pág.53)
Tilintando – fazer soar; emitir som
como campainha, sino. Verbo.
b) Neologismos formados por derivação prefixal
(1) Ao unir-se, o prefixo exerce a função de
acrescentar-lhe variados significado negativo e opositivo formam itens lexicais
Neológicas: des-, in-, im-, ante-, etc.
Ex: (1) “Ia inquieto, uma
sombra no olho azulado”. (pág.21)
Inquieto – desassossegado, não quieto, agitado. Adjetivo.
(2) “Depois de alguns minutos
voltou desanimado, triste (...)”.
(pág.21)
Desanimado - perder o ânimo,
desalentar. Adjetivo.
(3) “Fabiano impacientou-se
e xingou a mãe dele”. (pág.31)
Impacientou-se - tirar a
paciência de: tornar importuno.
Adjetivo.
“(...) o pai do vaqueiro, o avô
e outros antepassados mais antigos haviam-se acostumado (...)”. (pág.17)
Antepassados – ancestrais; antecedente. Substantivo.
c)
Derivação sufixal
O sufixo, afixo que se pospõe
ao radical, é uma derivação que se atribui a palavra-base que se associa uma
idéia acessória e, com freqüência, altera-lhe a classe gramatical. Na imprensa
contemporânea esse processo tem-se mostrado bastante produtivo.
Na pesquisa foi encontrada
palavras com sufixos variados:
(1) “Ele marchando para
casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as
alpercatas”. (pág.24)
Marchando - andar, caminhar.
Verbo.
Trepando – subir. Verbo.
Espalhando - lançar para diferentes lados; ato de espalhar. Verbo.
(2) “Os juazeiros aproximaram-se,recuaram,
sumiram-se”. (pág.10)
Aproximaram-se - pôr próximo; achegar, avizinhar. Verbo.
(3) “Coçou o queixo cabeludo...”. (pág. 24)
Cabeludo - que tem muito cabelo.
Adjetivo.
(4) “O mulungu do bebedouro
cobria-se de arribações”.
Bebedouro - lugar de beber água. Substantivo.
d) Derivação parassintética
A formação neológica parassintética das palavras no contexto abaixo, em que o prefixo -a e os sufixos -ada, -avam, juntam-se simultaneamente a uma base nominal, não se apresentam com muita produtividade no português contemporâneo. Os dois afixos incorporam-se ao mesmo tempo à palavra base.
(1)."Na planície avermelhada os juazeiros se alargavam duas manchas verdes..." (pág.09)
Avermelhada – Tirante vermelho;
tornar-se vermelho. Palavra adjetiva.
(2)."O louco aboiava, tangendo um gado..." (pág.12)
(2)."O louco aboiava, tangendo um gado..." (pág.12)
Aboiava - chamar aos bois. Palavra verbal.
(3)
“Avizinhou-se da casa, bateu, tentou forçar a porta...”. (pág.13)
Avizinhou-se - aproximar – se de;
chegar perto. Palavra verbal.
(4)
“Entristeceu. Talvez Sinhá Vitória dissesse a verdade...”. (pág.61)
Entristeceu – tornar triste;
penalizar. Palavra verbal.
e)
Composição subordinativa
A relação subordinativa
revela-se dois substantivos, em que o primeiro exerce o papel de determinado e
o segundo, de determinante.
Ex:
“Cultivariam um pedaço de terra”.
(pág.127)
Ex:
(01) “Mal-agradecido!” (pág.49)
Mal-agradecido – pessoa ingrata que não
agradece. (locução adverbial)
(2)
“As perneiras, o gibão o guarda-peito, as esporas e o barbicacho do chapéu
maravilhavam-no”. (pág.49)
Guarda-peito – pedaço de couro que
protege a barriga do vaqueiro. Relação de justaposição, de verbo mais adjetivo,
verifica-se o tipo de subordinação lexical. Constatamos que peito atua
Como
objeto direto do verbo ao qual se
vincula.
(3)
“Deu um pontapé na cachorra, que se afastou humilhada...” (pág.40)
Pontapé - chute, pancada com a ponta do
pé. Substantivo. A relação entre os
dois substantivos, em que o primeiro exerce o papel de determinado e o segundo,
de determinante.
f) Composição coordenativa
(1)
“Agora, enquanto parava dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares,
estranhavam não ver sobre o baú de
folha...” (pág. 11).
Pupilas brilhantes – olhos
brilhantes. a função sintática de
coordenação é exercida pela justaposição de substantivo com adjetivo.
g) Composição sintagmática
Encontramos como composição
sintagmática a seguinte palavra, pé- de - vento.
(1)
“Um pé- de- vento cobria poeira a folhagem das imburanas...”. (pág.49)
Pé-de-vento – vento forte. Justaposição
entre o substantivo e substantivo com a função sintática de adjetivo ligado por
preposição entre o determinante e determinado.
h) Composição satírica
Nesta
composição associam-se bases de variadas palavras à criação de itens léxicos
que tentam despertar a atenção do leitor.
(1) “Foi buscar a espingarda
de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la
bem...” (pág. 85)
Saca-trapo – Haste de ferro com um dos extremos com forma de
espiral, com que se retiravam as buchas das armas de fogo de se carregar pela
boca.
(2) “Entretido com o diabo do
jogo, tonto de aguardente, deixara o tempo correr”. (pág.31)
Aguardente - água + ardente (substantivo feminino. Bebida de
elevado teor alcoólico).
i) Neologismos
semânticos
O processo de neologismo
semântico revela-se de várias maneiras, como por meio de metáforas, metonímias,
da sinédoque, muitos são os significados que podem ser atribuídos a uma base
formal e transformam-na em novos itens léxicos.
(1) “os pequenos fugiram,
foram enrolar-se na esteira da sala, por baixo do caritó e sinhá Vitória voltou
pra junto da trempe...” (pág.44)
Caritó - pequenas prateleiras onde se guardam objetos miúdos que
fica na parede dos quartos ou das salas do sertão.
Trempe – conjunto de três pedras sobre o qual se faz um fogo e se
coloca uma panela.
(2) “Sem se apressar
livrou-se de um coice..”.
Coice – pancada de certos animais.
(3) “De repente um fuzuê sem
motivo”.
Fuzuê – confusão.
j)
Outros processos
Existem outros processos de
formação de palavras que contribuem para o enriquecimento lexical da língua
portuguesa, como: a truncação, palavra-valise a reduplicação e a derivação
regressiva.
Palavras por processos de
truncação não existe na obra.
1) Palavra-valise–
A junção
de bases substantivas que resulta em outra unidade léxica.
(1) “Cadê o valente”?
Cadê - onde está algo.; quede.
(2) “Por que é que vossemecê
bota água em tudo”?
Vossemecê – tratamento
dirigido, de ordinário, a pessoas de condição mediana; vossa mercê.
3.Considerações finais
Salientamos neste corpus a importância dos
neologismos e sua classificação na obra de Graciliano Ramos, Vidas secas,
principalmente o estudo de algumas palavras que caracterizam a linguagem
regional e que perdura ainda aos dias de hoje.
A linguagem é veiculada por meios que, de qualquer forma, estão
investidos de poder informativo: escolas, jornais, gramáticos que dão
“consultoria gramatical” etc. Não há como se admitir que gramáticas prescrevam
o que é certo ou errado. A língua é criada constantemente por seu usuário, pelo
falante; resulta de um longo processo histórico que não se congelou no tempo.
Não se trata, pois, de “certo” ou “errado”, mas adequação ou inadequação a
situações de comunicação. Em algumas situações de interlocução, o adequado é a
utilização da norma culta; em outros, uma variante coloquial. Como diz Carvalho (1983:30-31)
“Como
o neologismo é, sobretudo criação individual, os falantes criativos,
privilegiados e sensíveis, que são os escritores e poetas, são também os
maiores inovadores do sistema”
4.Bibliografia
ALVES, I. Maria. A integração dos neologismos
por empréstimo ao léxico Português.
Alfa,
São Paulo, 1984. (Suplemento)
__________Neologismo: criação lexical. São Paulo.
Ática, 1989.
BIDERMAN, Maria Tereza C. Teoria lingüística . Lingüística quantitativa e computacional. Rio de Janeiro: LCT, 19978. p.158-166.
CARVALHO, Nelly. O que é
neologismo. São Paulo, Brasiliense,
1984.
__________Empréstimos
lingüísticos. São Paulo: Ática, 1989. 84p.
RAMOS, Graciliano. Vidas
secas. 99ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.
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