sábado, 6 de outubro de 2012

NEOLOGISMOS NA OBRA DE GRACILIANO RAMOS EM VIDAS SECAS






  
                                                                      ZORAIDA MARIA PASSOS RODRIGUES



            O neologismo é, em suma, uma presença inevitável na língua viva. Enquanto alguns são resultados de "pura inventividade popular" (casos de apoiamento, pesquisismo...), outros decorrem de "inspiração literária" (como na frase de Guimarães Rosa "A gente vive, eu acho, é mesmo pra se desiludir e desmisturar”). O léxico de uma língua não é homogêneo: usamos palavras típicas da língua falada, palavras típicas da língua escrita, palavras técnicas, palavras antigas e palavras novas. Estas, chamadas neologismos, são os reflexos de como a língua acompanha as inovações da nossa sociedade. Ao estudá-los, estamos analisando não só os processos de formação de novas palavras como também a evolução dessa sociedade. Dependerá dos falantes da língua a aceitação, isto é, a adoção dessa inovação, fato que levará à mudança na língua. Essas fases (inovação, adoção e mudança) confundem-se pelo fato de que quando tomamos consciência da inovação ela já foi adotada pelos falantes e, portanto, já ocorreu a mudança. Em Vidas secas, buscamos investigar os mecanismos e recursos lingüísticos populares empregados na língua Portuguesa brasileira. Salientamos a importância principalmente sobre o aparecimento de neologismos criados pelo autor em sua obra que é uma grande realidade na nossa língua pelas pessoas que não são letradas, mas que têm uma linguagem humana, viva, que identifica o Brasil e, como tal, permanece até os dias atuais com suas mudanças e inovações e não envelhecem com o decorrer dos tempos, mas sim, inova.



1.       INTRODUÇÃO


              Neste artigo, propomo-nos a fazer uma análise da formação neológica 
presente neste corpus. Pelo estudo que foi feito, constatamos que os neologismos em Vidas Secas servem como exemplo para a caracterização das palavras da nossa sociedade ainda hoje presentes na linguagem. Vimos que a linguagem humana é mutável, e a expressão dessa mudança está em constante transformação e é realizada através dos neologismos que fazem com que o acervo lexical de todas as línguas se renove. Enquanto algumas palavras se tornam arcaicas, outras são criadas, ou até mesmo responsáveis pela nova criação de palavras.
                  
                     Os estudos formalistas têm demonstrado que é essa simultaneidade entre a manutenção da tradição e a ruptura da tradição que forma a essência de toda inovação em arte. Essa expressão, por sua vez, comprova a questão da inovação das palavras e do estudo neológico.

                  Este (trabalho toma como base, principalmente, o estudo feito por ALVES (1990)), pela fundamentação teórica realizada, a conceituação de neologismo converge para a idéia de renovação do acervo lexical das línguas. A neologia é o processo de criação lexical, tendo como resultado o Neologismo (a palavra nova ou uma nova acepção para essa palavra). O neologismo pode ser formado por mecanismos oriundos da própria língua, ou por processos léxicos provenientes de outros sistemas lingüísticos.

                       As formações neológicas deste artigo seguem a classificação proposta por ALVES (1990): neologismo fonológico, neologismo semântico, neologismo sintático(derivação sufixal, derivação parassintética, composição subordinativa, composição coordenativa, composição satírica, composição sintagmática, composição por sigla ou acronímica), neologismo formado por empréstimo, conversão, truncação, palavra valise, derivação regressiva.

                   





                        Quando ocorre a dicionarização da nova palavra ou dos novos significados, a palavra deixa de ser neológica, pelo menos esse é o princípio seguro da inclusão dessa nova palavra ou novo significado no vocabulário de uma língua. Em nosso corpus de estudo há a presença predominante da língua popular, que deve ser respeitada já que é de conhecimento de todos independente da classe social.

                    O objetivo deste artigo é analisar os processos neológicos na obra de Graciliano Ramos: Vidas Secas.

                  _ Compreender os aspectos lexicais no corpus em questão.
                  _ Investigar os processos de neologismos  populares presentes na obra.
                  _ Averiguar os processos fonológicos, derivacionais, composicionais, etc., no mesmo corpus.

                    Com estes objetivos estaremos investigando quais os processos fundamentais no corpus em análise e se estes processos são os mesmos descritos pelos estudiosos do assunto em pauta.

                        Estudamos os neologismos em Vidas Secas para verificarmos inclusive semelhanças ou diferenças com as palavras que ainda hoje cogitam na nossa língua e que foram tão bem colocadas por Graciliano Ramos retratando muito bem a realidade dos neologismos popular nordestino e, o educador tem um papel de suma importância como articulador e nós temos que perceber que a educação e a cultura são essenciais no processo de socialização entendido como respeito à linguagem, sabemos que ela é dinâmica e mutável, que precisamos dela com suas significações e constantes modificações e é em busca dessa discussão da língua não ser imutável, sua variação conforme as circunstâncias, enfatizamos essas mudanças e alterações que regem nossa história como presença de neologismo  nessa obra de uma estética modernista que caracteriza a região nordestina, onde apresenta uma série de palavras que são neologismos e que ainda hoje, no século XXI, predomina os traços regionalistas que têm grande ênfase na nossa literatura, principalmente através de sua linguagem.
       





                       Apresentamos uma sucinta introdução, onde orientamos o leitor para a organização do artigo, as principais fontes de pesquisa, os objetivos e a justificativa deste trabalho. A fundamentação teórica foi feita conceituando Neologia e Neologismo, Neologismo da História da Língua Portuguesa e os Processos Neológicos. Nesta fase procuramos dar embasamento teórico à Análise do Material Coletado, os neologismos na língua viva por qualquer língua do mundo na obra de Graciliano Ramos, Vidas secas. Na averiguação do corpus, fizemos à classificação dos tipos e Processos Formadores de Neologismos, e na Conclusão, colocamos o resultado da análise dos dados referente à pesquisa.
  
                        A neologia lexical é o estudo da origem da palavra ou do conjunto de palavras, de sua produção e aparecimento. É importante observar que toda palavra foi um dia neologismo. A neologia é o processo de criação lexical e a palavra que resulta desta criação chama-se neologismo. Segundo ALVES (1990), o léxico português, durante sua história, vem sendo ampliado por dois processos principais, a derivação e a composição. A mesma autora cita Matoso Câmera que, em seu dicionário de Lingüística, considera o neologismo, uma inovação que se firma em determinada língua, podendo tratar de um neologismo vocabular, isto é, vocábulo novo ou de um novo tipo de construção frasal, ou seja, neologismo sintático. ALVES (1990) também cita Biderman que diferencia dois tipos de neologismos: o neologismo conceptual e o formal: no primeiro caso,teríamos uma nova acepção que se incorpora no campo semântico de um significante ou
mesmo através de uma conotação nova dada a uma palavra. O neologismo formal constitui uma palavra nova a ser introduzida no idioma, podendo ser vernáculo ou estrangeiro.
                      
                        A mudança lingüística é fenômeno que corresponde às necessidades da comunidade dos falantes que podem ser de ordem social ou técnica. A criação de novos objetos sempre precederá a criação de novos itens lexicais que os dominarão. Por isso, sempre que se faz necessário nomear um objeto ou uma idéia, um novo termo é criado ou um termo já existente passa a ser empregado com novo significado.







                        A renovação lexical de todas as línguas é um fato inquestionável. Na história de uma língua muitas palavras são esquecidas e outras são criadas para a renovação e amadurecimento dessa língua. Segundo (ALVES, 1990 p.05):
                       
O acervo lexical de todas as línguas vivas se renova. Enquanto algumas palavras deixam de ser utilizadas e tornam-se arcaicas, uma grande quantidade de unidades léxicas é criada pelos falantes de uma comunidade lingüística”.

                         Ao processo de renovação lexical, dá-se o nome de neologia. Já o resultado dessa transformação, denomina-se neologismo. Segundo Alves (idem):

O neologismo pode ser formado por mecanismos oriundos da própria língua, os processos autóctones ou por itens léxicos provenientes de outros sistemas lingüístico. Na Língua Portuguesa, os dois recursos têm sido amplamente empregados, diacrônica ou sincronicamente”.

                         Os estudiosos sobre o assunto não divergem muito quanto a conceituação de neologia e neologismo. No dicionário Aurélio (1988:453), encontramos as seguintes definições:

a)  Neologia: emprego de palavras novas, ou de novas acepções.
b)  Neologismo: palavra, frases ou expressões novas, ou palavra antiga com sentido novo.

                         O léxico de uma língua não é homogêneo: usamos palavras típicas da língua falada, palavras típicas da língua escrita, palavras técnicas, palavras antigas e palavras novas. Estas, chamadas neologismos, são os reflexos de como a língua acompanha as inovações da nossa sociedade. Ao estudá-los, estamos analisando não só os processos de formação de novas palavras como também a evolução dessa sociedade.
      








                         A história da Língua Português nos revela que o léxico português é de origem basicamente latina. A ampliação desse léxico se faz por meio de mecanismo oriundos do latim: a derivação e a composição. (ALVES, 1990:05)

                        Além recursos, os recursos, os empréstimos lexicais também foram muito importantes na ampliação do léxico português: celta, bárbara, árabe, africana, espanhola, francesa, inglesa, etc. Essas culturas influenciaram muito na Língua Portuguesa.

                         Com a decadência dos Romanos na Idade Média, conseqüentemente a língua latina também foi abalada, assim outros povos através de suas culturas nos influenciaram (o francês, o italiano, o inglês, etc.).

                         O contato da Língua Portuguesa como a cultura indígena aqui no Brasil, influenciou bastante para o enraizamento da Língua portuguesa em nosso território.
                        
                          Entre os literários mais destacados na criação de novos itens léxicos, como o grande Graciliano Ramos, pode citar outros: Monteiro Lobato, Cruz e Souza, Carlos Drummond de Andrade, Cassiano Ricardo, etc.

                         A ampliação e atualização da linguagem é uma realidade expressa através dos neologismos.  De acordo com ALVES (1990) os neologismos podem ser de vários tipos: fonológicos, sintáticos, semânticos, por conversão, por empréstimos de línguas estrangeiras, truncação, palavra-valise, reduplicação e derivação regressiva.       

                     CARVALHO (1983) faz o seguinte esquema de classificação dos neologismos: neologismos conceituais (semânticos), neologismos formais, neologismos técnicos e empréstimos.

                     Em nosso trabalho, embasamo-nos, principalmente, na classificação de ALVES (1990).







                   A Neologia Fonológica indica a criação de um item léxico cujo significado seja totalmente inédito, isto é, tenha sido criado sem base em nenhuma palavra já existente.
Esse tipo de neologismos também é realizado através da criação onomatopaica, ou seja, palavras formadas a partir de uma relação não totalmente arbitrária, pois há motivação entre o significante e o significado. A Onomatopéia  procura reproduzir um som, o que impossibilita que seu significante seja imotivado.

                     Muitas vezes acrescentamos significados a determinadas palavras sem que elas passem por qualquer processo de modificação formal. O neologismo semântico é um novo significado que se atribui a uma palavra sem necessidade de alteração em sua forma escrita. ALVES (1990:14) nos fala sobre a ocorrência mais usual desse tipo de neologismo:
                            
“O neologismo semântico mais usual ocorre quando se verifica uma. mudança no conjunto dos semas referentes a uma unidade léxica. Por meio dos processos estilísticos da metáfora, da metonímia, da sinédoque...vários significados podem ser atribuídos a uma base formal e transformam-na em novos itens lexicais”. 

                      O neologismo semântico é gerado a partir da articulação significante e significado recente, ou seja, conserva-se a expressão do signo-base do qual é atribuído um novo conteúdo. É a criação de um novo elemento a partir de uma transformação semântica manifestada num item lexical.

                  Os neologismos sintáticos supõem a combinatória de elementos já existentes no sistema lingüístico português. Classificados ALVES (1990:14) em “derivados, compostos, compostos sintagmáticos e compostos formados por siglas ou acronímicos”.

                   São sintáticos “porque a combinação de seus membros constituintes não está circunscrita exclusivamente ao âmbito lexical (junção de um afixo ou de sufixos pode alterar a classe gramatical da palavra-base:  a composição tem caráter coordenativo e subordinativo;
“Os integrantes da composição sintagmática e acronímica constituem componentes frásicas com de uma unidade lexical”. (idem) É a combinatória de elementos já existentes no sistema lingüístico. Neste processo, estaríamos neologismos formados por derivação prefixal e





derivação sufixal, composição sintagmática e composição por siglas ou acronímica. A conversão ou derivação imprópria  é um tipo de formação lexical pelo qual uma unidade léxica sofre alterações em sua distribuição sem que haja manifestação de mudanças formais.
     
                       Consistem no processo que se caracterizam pela junção de afixos (prefixos e/ ou sufixos), elementos mais produtivos na formação derivacional, a uma base para a formação de palavras.

                        A derivação classifica-se em:

                    Derivação Prefixal – A derivação prefixal é um processo extremamente produtivo             português contemporâneo. Ao unir-se a uma base, ou radical da palavra exerce função de acrescentar-lhe variados significados.  Os prefixos são partículas independentes ou não-independentes que, antepostos a uma palavra-base, atribuem-lhe uma idéia acessória, pequenez, repetição, procedência, tipologia, etc., alterando ou não a classe gramatical da base a que se juntam. Ex: desinformação, desigual, depredar, reação, etc.

                    Derivação Sufixal – Através da derivação sufixal, o sufixo, elemento de caráter não-autônomo (ALVES, 1990) e recorrente, atribui à palavra-base a que se associa uma idéia acessória e, com freqüência altera-lhe a classe gramatical. 
         Ex: bebedouro, penosamente, perneiras, etc.

                     A derivação prefixal e sufixal pode ocorrer simultaneamente em uma mesma palavra, e essa      palavra pode existir ao se retirar um desses afixos. É o que ocorre na palavra insensibilidade.     No entanto, quando um desses afixos não pode ser retirado trata-se da derivação parassintética (emagrecer).

                   O processo de composição consiste na união de bases autônomas ou não-autônomas. O Neologismo funciona morfológica e semanticamente como um único elemento. As várias classes de palavras que se unem revelam caráter subordinativo ou coordenativo (ALVES, 1990).






a)         Composição subordinativa – quando uma base exerce a função de determinado e a (s) outra (s) determinante (s). Essas bases estabelecem relação de subordinação.
               
    Ex: tiracolo, barbicacho, etc.
         
b)        Composição coordenativa – As bases que formam esse tipo de composição se relacionam pela justaposição de substantivos, adjetivos ou elementos de outra classe gramatical.  As bases se unem coordenativamente.  Ex: rítmico-harmônico, pontapé,
extraordinário, etc.              

                  Quanto a composição sintagmática, consiste numa integração frasal em que seus membros constituintes se ligam numa relação tanto sintática, morfológica quanto semanticamente.
     
                    ALVES (1990:50-51) diferencia a composição sintagmática das demais composições:

A composição sintagmática nominal caracteriza-se por determinar uma ordem constante  a suas unidades formadoras:  à base determinada segue-se a determinante, que pode ser introduzida por uma preposição.  No interior do sintagma, os componentes do item léxico conservam as relações gramaticais características da classe a que pertencem, entre a unidade léxica constituída por composição propriamente dita e a  formada por composição sintagmática existem diferenças: A ordem de apresentação da unidade sintagmática é sempre a do determinado seguido de determinante, o que nem sempre se verifica no elemento composto: além disso, o item léxico composto pode obedecer a regras próprias quanto à flexão em gênero e em número. Já os membros integrantes do composto sintagmático conservam as peculiaridades flexionais de suas categorias de origem.

Exemplos de composição sintagmática: Vidas secas, cambada de cachorros, meias de
Algodão, obras-primas.
                    






                     Em relação a composição satírica, consistem na associação de bases providas dos mais variados matizes semânticos com a finalidade de despertar a atenção do leitor (receptor).
                       Ex: lagoa torrada – lagoa seca

                             Pé de pau – árvore
    
                    Já a composição por sigla ou acronímica, resulta na lei de economia discursiva. Ocorre quando um sintagma é reduzido à suas letras ou sílabas iniciais.  A sigla é formada a partir das iniciais maiúsculas dos elementos do composto.  Já a acronímica assume sua forma de modo silabado, decorrente da união de algumas letras e /ou sílabas do sintagma.
                     Exemplo de siglas: RJ, VS, GR, UFC.
                     Exemplo de acronímica: UECE, UVA, RECORD.

                  A Conversão é denominado também de derivação imprópria. Consiste na mudança da categoria gramatical da palavra, sem sofrer alteração na sua estrutura formal.   
  
                CARVALHO (1983:100) faz uma citação de CUNHA a respeito desse processo: por este processo formam-se novos substantivos, adjetivos, advérbios.
                    Ex: os negros dos urubus.  ( adjetivo funcionando como substantivo)

                   Os processos chamados empréstimos se referem às bases da língua português. No entanto, o léxico de um idioma se amplia também com o contato entre as comunidades lingüísticas (CARVALHO, 1983:124):
        
   “O empréstimo não é uma inovação, mas uma adoção. Atualmente, a língua que tem mais influência sobre o português é o inglês”.

                     Por fim, o estrangeirismo consiste na adoção de um item léxico, oriundo de uma outra cultura.
                     Existem também outros processos como truncação, ele consiste na abreviação de uma parte da seqüência lexical, feralmente a final é eliminada.

                      Ex: Euro - forma reduzida de europeu





                    A palavra valise, é um tipo de redução que consiste na eliminação da parte final de duas bases para constituírem um novo item léxico.
                 Ex: Brasigaio – formado a partir da união das bases substantivo brasileiro e paraguaio.
                       Showmícios – formado a partir da união das bases substantivas show e comício.

2.       A Análise do Material Coletado    

    2.1. Criações Neológicas
 
                  O corpus desta pesquisa foi dividido de acordo com o tipo de neologismo e o processo formador.  Os itens léxicos, presentes neste artigo, foram todos coletados da obra de Graciliano Ramos: Vidas secas.

   2.2. Tipos e Processos Formadores de Neologismos

a)       Neologismos Fonológicos

                  No corpus apresentam-se como neologismos fonológicos: chiava, estalava, chape-chape, badalos, eco, tilintando. Reproduzem sons onomatopaicos.
(1) “O preá chiava em cima das brasas.” (pág.16)
Chiava – a palavra chiava tenta reproduzir o som da carne de preá assando em cima das brasas.
(2) “A fogueira estalava”.   (pág.16)
Estalava - produzir estalo em: estralar.   Verbo; sentido de prosopopéia.
(3) “As alpercatas dele faziam chape-chape”.  (pág.17)
Chape-chape - agitar o chinelo na terra ou na lama; barulho do chinelo ao andar.
Substantivo; palavra onomatopaica.






(4) “(...) os badalos dos chocalhos que lhe pesavam no ombro batiam surdos”.  (pág.17)
Badalos - som produzido pela pancada do pedaço de metal no chocalho. Substantivo.
(5) – Eco! Eco!    (pág. 21)
Eco-som produzido ao bater palmas.  Substantivo.
(6) “(...) as rosetas das esporas tilintando”.   (pág.53)
Tilintando – fazer soar; emitir som como campainha, sino.  Verbo.

b)     Neologismos formados por derivação prefixal

(1) Ao unir-se, o prefixo exerce a função de acrescentar-lhe variados significado negativo e opositivo formam itens lexicais Neológicas: des-, in-, im-, ante-, etc.
Ex: (1) “Ia inquieto, uma sombra no olho azulado”. (pág.21)
Inquieto – desassossegado, não quieto, agitado.  Adjetivo.
(2) “Depois de alguns minutos voltou desanimado, triste (...)”.  (pág.21)
Desanimado -  perder o ânimo, desalentar.  Adjetivo.
(3) “Fabiano impacientou-se e xingou a mãe dele”. (pág.31)
Impacientou-se -  tirar a paciência de: tornar importuno.  Adjetivo.
“(...) o pai do vaqueiro, o avô e outros antepassados mais antigos haviam-se acostumado (...)”.   (pág.17)
Antepassados – ancestrais; antecedente.   Substantivo.

c)     Derivação sufixal

                  O sufixo, afixo que se pospõe ao radical, é uma derivação que se atribui a palavra-base que se associa uma idéia acessória e, com freqüência, altera-lhe a classe gramatical. Na imprensa contemporânea esse processo tem-se mostrado bastante produtivo.
Na pesquisa foi encontrada palavras com sufixos variados:
(1) “Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas”.  (pág.24)
Marchando - andar, caminhar.     Verbo.
      






Trepando – subir.  Verbo.
Espalhando - lançar para diferentes lados; ato de espalhar.    Verbo.
(2) “Os juazeiros aproximaram-se,recuaram, sumiram-se”.   (pág.10)
Aproximaram-se - pôr próximo; achegar, avizinhar.    Verbo.
(3) “Coçou o queixo cabeludo...”.     (pág. 24)
Cabeludo - que tem muito cabelo.  Adjetivo.
(4) “O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações”.
Bebedouro - lugar de beber água.  Substantivo. 

d) Derivação parassintética
   
       
            A formação neológica parassintética das palavras no contexto abaixo, em que o prefixo  -a e os sufixos -ada, -avam, juntam-se simultaneamente a uma base nominal, não se apresentam com muita produtividade no português contemporâneo.  Os dois afixos incorporam-se ao mesmo tempo à palavra base.
(1)."Na planície avermelhada os juazeiros se alargavam duas manchas verdes..." (pág.09)
Avermelhada – Tirante vermelho; tornar-se vermelho.   Palavra adjetiva.
(2)."O louco aboiava, tangendo um gado..." (pág.12)
Aboiava - chamar aos bois.      Palavra verbal.
(3) “Avizinhou-se da casa, bateu, tentou forçar a porta...”.     (pág.13)
Avizinhou-se - aproximar – se de; chegar perto.  Palavra verbal.
(4) “Entristeceu. Talvez Sinhá Vitória dissesse a verdade...”.   (pág.61)
Entristeceu – tornar triste; penalizar.   Palavra verbal.

e)        Composição subordinativa

                 A relação subordinativa revela-se dois substantivos, em que o primeiro exerce o papel de determinado e o segundo, de determinante.
Ex: “Cultivariam um pedaço de terra”.   (pág.127)
Ex: (01) “Mal-agradecido!” (pág.49)
Mal-agradecido – pessoa ingrata que não agradece.   (locução adverbial)






(2) “As perneiras, o gibão o guarda-peito, as esporas e o barbicacho do chapéu maravilhavam-no”.  (pág.49)
Guarda-peito – pedaço de couro que protege a barriga do vaqueiro. Relação de justaposição, de verbo mais adjetivo, verifica-se o tipo de subordinação lexical. Constatamos que peito atua
Como objeto direto  do verbo ao qual se vincula.
(3) “Deu um pontapé na cachorra, que se afastou humilhada...”  (pág.40)
Pontapé - chute, pancada com a ponta do pé.   Substantivo. A relação entre os dois substantivos, em que o primeiro exerce o papel de determinado e o segundo, de determinante.

f) Composição coordenativa

(1) “Agora, enquanto parava dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares, estranhavam      não ver sobre o baú de folha...” (pág. 11).
Pupilas brilhantes – olhos brilhantes.  a função sintática de coordenação é exercida pela justaposição de substantivo com  adjetivo.

g) Composição sintagmática

                  Encontramos como composição sintagmática a seguinte palavra, pé- de - vento.
(1) “Um pé- de- vento cobria poeira a folhagem das imburanas...”.  (pág.49)
Pé-de-vento – vento forte. Justaposição entre o substantivo e substantivo com a função sintática de adjetivo ligado por preposição entre o determinante e determinado.

h) Composição satírica

              Nesta composição associam-se bases de variadas palavras à criação de itens léxicos que tentam despertar a atenção do leitor.







(1) “Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem...”   (pág. 85)
Saca-trapo – Haste de ferro com um dos extremos com forma de espiral, com que se retiravam as buchas das armas de fogo de se carregar pela boca.

(2) “Entretido com o diabo do jogo, tonto de aguardente, deixara o tempo correr”. (pág.31)
Aguardente - água + ardente (substantivo feminino. Bebida de elevado teor alcoólico).

i) Neologismos semânticos
                    
                   O processo de neologismo semântico revela-se de várias maneiras, como por meio de metáforas, metonímias, da sinédoque, muitos são os significados que podem ser atribuídos a uma base formal e transformam-na em novos itens léxicos.

(1) “os pequenos fugiram, foram enrolar-se na esteira da sala, por baixo do caritó e sinhá Vitória voltou pra junto da trempe...”  (pág.44)
Caritó - pequenas prateleiras onde se guardam objetos miúdos que fica na parede dos quartos ou das salas do sertão.
Trempe – conjunto de três pedras sobre o qual se faz um fogo e se coloca uma panela.
(2) “Sem se apressar livrou-se de um coice..”.
Coice – pancada de certos animais.
(3) “De repente um fuzuê sem motivo”.
Fuzuê – confusão.

j)         Outros processos

                   Existem outros processos de formação de palavras que contribuem para o        enriquecimento lexical da língua portuguesa, como: a truncação, palavra-valise a reduplicação e a derivação regressiva.








Palavras por processos de truncação não existe na obra.

1) Palavra-valise–

                   A junção de bases substantivas que resulta em outra unidade léxica.
(1) “Cadê o valente”?
Cadê - onde está algo.; quede.
(2) “Por que é que vossemecê bota água em tudo”?
Vossemecê – tratamento dirigido, de ordinário, a pessoas de condição mediana; vossa mercê.

3.Considerações finais

                    Salientamos neste corpus a importância dos neologismos e sua classificação na obra de Graciliano Ramos, Vidas secas, principalmente o estudo de algumas palavras que caracterizam a linguagem regional e que perdura ainda aos dias de hoje.
                    A linguagem é veiculada por meios que, de qualquer forma, estão investidos de poder informativo: escolas, jornais, gramáticos que dão “consultoria gramatical” etc. Não há como se admitir que gramáticas prescrevam o que é certo ou errado. A língua é criada constantemente por seu usuário, pelo falante; resulta de um longo processo histórico que não se congelou no tempo. Não se trata, pois, de “certo” ou “errado”, mas adequação ou inadequação a situações de comunicação. Em algumas situações de interlocução, o adequado é a utilização da norma culta; em outros, uma variante coloquial.  Como diz Carvalho (1983:30-31)
“Como o neologismo é, sobretudo criação individual, os falantes criativos, privilegiados e sensíveis, que são os escritores e poetas, são também os maiores inovadores do sistema”

4.Bibliografia

ALVES, I. Maria.  A integração dos neologismos por empréstimo ao léxico Português.
Alfa, São Paulo, 1984.  (Suplemento)
__________Neologismo: criação lexical. São Paulo. Ática, 1989.
BIDERMAN,  Maria Tereza C.     Teoria lingüística .  Lingüística quantitativa e computacional.  Rio de Janeiro: LCT, 19978. p.158-166.

CARVALHO, Nelly.  O que é neologismo.  São Paulo, Brasiliense, 1984.
__________Empréstimos lingüísticos. São Paulo: Ática, 1989. 84p.
RAMOS, Graciliano.   Vidas secas.  99ª ed.  Rio de Janeiro: Record, 2006.

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