Vastilde Ferreira Lima
Levando
em consideração a missão do professor de literatura de formar leitores
eficientes, este artigo aborda o direito à literatura como um dos Direitos Humanos, mostrando a relevância
da função da escola, em apresentar variadas possibilidades de incentivo à leitura,práticas
de ensino fundamentadas na vivência do aluno, estudadas e planejadas, assim
como o papel fundamental do professor na formação de leitores, apresentando-se
como um leitor maduro, proporcionando
aos alunos acesso à literatura de qualidade.A literatura promoverá no homem o
desenvolvimento de sua intelectualidade, equilíbrio moral e psicológico, bem
como uma maior integração com a realidade que o cerca.
Vivemos numa
sociedade marcada pelos contrastes: de um lado uma maioria populacional,
condicionada à pobreza; de outro, uma minoria economicamente e socialmente mais
bem sucedida. O progresso, que deveria melhorar a vida das pessoas, muitas
vezes atua inversamente, gerando mais desigualdades, barbáries, destruição,
deixando bem nítidas as marcas das contradições humanas. A época presente é um
período de incoerências, mas é também de mais consciência, pois há aqueles empenhados
em resolver os problemas da sociedade, expandindo a consciência, indispensável
à igualdade de direitos e oportunidades, independente das diferenças que
houver. Por isso a Literatura é um direito de todos.
A promoção e
a valorização dos direitos humanos estão na educação. A leitura de um clássico
não deve ser privilégio dos mais favorecidos. A Literatura, que é arte da
palavra, o fruto da expressão escrita do homem, deve estar presente na vida
cotidiana de pobres e ricos. É feita pelo homem e por ele deve ser absorvida,
independente das diferenças sociais. Mesmo variando a qualidade de sua
produção, que pode ser alta ou baixa, ela estimula a reflexão, faz pensar,
promove visões sobre o mundo e sobre o indivíduo, cultiva emoções, representa
verdadeiramente a identidade de um povo, enfim, pode contribuir na luta pelos
direitos do homem e ao livre acesso à construção textual de seu próprio
semelhante, fomentando assim a idéia de uma sociedade mais justa e, portanto,
mais humana.
A formação de
leitores tem sido temas de discussões, seminários, monografias e artigos dentro
do nosso país. Existe uma enorme preocupação dos professores e educadores em
despertar o interesse e o prazer do aluno pela leitura. Nas escolas públicas
temos percebido a distância que há entre o aluno e a literatura. Como resultado
disso estão os resultados de exames externos realizados em nossas escolas. É
patente o nível baixíssimo de leitura e escrita dos alunos matriculados em
escolas públicas. Convivemos com isso todos os dias.
Sabemos que o
leitor começa a ser formado nas séries iniciais. Trabalhar a criança, levando-a
a ter contato com a literatura, poderia ser o meio mais eficaz para a formação
de leitores. Mas, o que fazer quando isso não aconteceu nas séries inicias e o
aluno se encontra já no Ensino Fundamental ou mesmo o Médio, e ainda não é um
leitor? Seria possível mudar esse quadro? Existe idade certa para formação de
leitores?
Fundamentando-se
nessa realidade com o intuito de buscar respostas a essas perguntas, que é causa
de angústias de inúmeros professores de Língua Portuguesa e Literatura, este
estudo foi desenvolvido através de consultas bibliográficas,baseado nos estudos
de autores como Antônio Cândido, Marisa Lajolo,Hélder Pinheiro, Ezequiel
Theodoro da Silva e Guaraciaba Micheletti ,todos ligados à formação de leitores
e à importância da Literatura como forma de pensar e expressar-se.
2.NECESSIDADES E DIFICULDADES DA FORMAÇÃO
DO LEITOR NO BRASIL
2.1.O DIREITO À LITERATURA
Pensar em direitos humanos tem um
pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é
também indispensável para o próximo.
Antônio Cândido
Vivemos
numa época de intenso progresso. Nunca o homem avançou tanto no campo
científico e tecnológico. Mas a maior contradição em tudo isso é um elevado
índice de miséria, fome e analfabetismo em países subdesenvolvidos.
Ao
avançarmos tecnologicamente e industrialmente aumentou-se o conforto até
alcançarmos níveis nunca sonhados, excluímos deles as grandes massas que
condenamos à miséria. No Brasil, quanto mais cresce a riqueza, mais aumenta a
péssima distribuição de bens. Cândido(2004, p.169) afirma: “Os mesmos meios que permitem
o progresso podem provocar a degradação
da maioria.”
Nesse
período tão cruel que enfrenta a humanidade, temos a possibilidade,
teoricamente falando, de entrever uma solução para as grandes desarmonias que
geram a injustiça, através dos Direitos Humanos, no entanto, não nos empenhamos
nela. Sobre isso Cândido(2004, p.170) fala que:
quem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teórica em realidade, empenhando-se em fazer
coincidir uma com a outra. Inversamente, um traço sinistro do nosso tempo é
saber que é possível a solução de tantos problemas e no entanto não se empenhar
nele.
O
que temos ouvido e visto são discursos hipócritas de igualdade e justiça. Falar
em direitos humanos temos que reconhecer que aquilo que consideramos
indispensável para nós é também indispensável para o próximo. E não nos
referimos somente à alimentação e saúde, inclui-se aqui também o acesso à
literatura. Temos a tendência de achar que os nossos direitos são mais urgentes
que os do próximo.
A
respeito disso queremos citar o ponto de vista de um grande sociólogo francês,
o padre dominicano Louis-Joseph Lebret, fundador do movimento Economia e
Humanismo, sobre o qual Antônio Cândido(2004, p.173) cita em seu livro Vários Escritos. Ele fala da distinção
entre “bens compressíveis” e “bens incompressíveis”.
Entende-se
como bens incompressíveis, os que não podem ser negados a ninguém, como o
alimento, a casa, a roupa. Outros são compressíveis como os cosméticos, os
enfeites, as roupas supérfluas. A fronteira entre ambos é difícil de fixar,
pois o valor de uma coisa depende em grande parte da necessidade relativa que
temos dela. Diz Cândido(2004,p.174):
São
bens incompressíveis não apenas os que asseguram a sobrevivência física em
níveis decentes, mas os que garantem a integridade espiritual. São
incompressíveis certamente a alimentação, a moradia, o vestuário, a instrução,
a saúde, a liberdade individual,o amparo da justiça pública, a resistência à opressão etc. e
também o direito à crença, à opinião, ao lazer, e por que não, à arte e à
literatura.
A
arte e a literatura só poderiam ser consideradas bens incompreensíveis se a
sociedade fosse mais justa, se correspondesse à necessidade profunda do ser
humano. Levando em consideração o conceito amplo de literatura segundo
Cândido(2004 ,p.174) como: “todas as criações de toque poético, ficcional ou
dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura,
desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e
difíceis da produção escrita das grandes civilizações”, chega-se à conclusão de
que a literatura faz parte da vivência do ser humano em todos os tempos.
Ninguém passa
um dia sem em algum momento se entregar ao universo da fantasia. Literatura
passa a ser uma necessidade universal, e, portanto, constitui um direito. Nas
sociedades passa a ser um instrumento poderoso de instrução e educação. Tem
papel formador da personalidade, pois na mão de um leitor o livro pode ser um
objeto de perturbação e mesmo de alienação. É o poder humanizador da
literatura. Desenvolve em nós a partícula de humanidade na medida que nos torna
mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade e o semelhante.
Segundo
Cândido(2004, p.179-180):
A
literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em
todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela. (...) fruí-la é um direito das pessoas de
qualquer sociedade, desde o início que canta as suas proezas de caça ou evoca
dançando a lua cheia, até o mais requintado erudito que provoca captar com
sábias redes os sentidos flutuantes de um poema hermético.
Existe
uma modalidade da literatura que visa descrever e tomar posições em face às
desigualdades sociais. Podemos citar Castro Alves, assumindo a posição de luta
contra a escravidão. Victor Hugo em sua obra Os miseráveis onde o tema principal é a pobreza, a ignorância e a
opressão que geram crimes, ao qual o homem é condenado pelas condições sociais.
Na França Émile Zola, fez uma verdadeira epopéia do povo oprimido e explorado.
No
Brasil o período onde se manifesta produção literária preocupada com o homem do
povo, com seus problemas é, em alguns momentos o Naturalismo e, sobretudo no
decênio de 1930, com José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Érico Veríssimo e
Graciliano Ramos e sendo vista deste ângulo, a literatura tem muito a ver com a
luta pelos direitos humanos. Na obra de Rachel de Queiroz, O Quinze, temos o retrato do sertanejo sofrido e abandonado. É a
descrição fiel da miséria e da fome que assolava o Ceará neste período. Sem
esquecermos ainda de Euclides da Cunha, com Os
Sertões, que é não somente uma obra literária, mas também um documento
histórico. É uma denúncia da realidade brasileira, trazendo à luz, pela
primeira vez em nossas letras, as verdadeiras condições de vida do Nordeste
brasileiro.
Na sociedade
brasileira, em que uma parte considerável da população é analfabeta, ou quase,
e vive em condições precárias, é preciso que sua organização seja feita de
maneira a garantir uma distribuição igualitária dos bens. Entretanto, o que se
vemos é o homem do povo privado da possibilidade de conhecer e aproveitar a
leitura de Machado de Assis ou Mário de Andrade. Para ele, ficou a literatura
de massa, o folclore, a sabedoria espontânea e a canção popular, o provérbio.
Não tirando a importância e a nobreza dessa modalidade, mas torná-las
suficientes para a grande maioria, devido à pobreza e à ignorância, é impedi-la
de chegar às obras eruditas. Para Cândido(2004,p.186):
O
que há de grave numa sociedade como a brasileira é que ela mantém com a maior
dureza a estratificação das possibilidades, tratando como se fossem
compressíveis muitos bens materiais e espirituais que são incompressíveis.
É
preciso que a organização da sociedade seja feita de maneira a garantir uma
distribuição eqüitativa dos bens para que a literatura erudita deixe de ser
privilégio de pequenos grupos. Podem ocorrer movimentos e medidas, de caráter
público ou privado para diminuir o abismo entre os níveis e fazer chegar ao
povo produtos eruditos, pois o que falta à população carente não é a
capacidade, mas sim a oportunidade.
Nos
países desenvolvidos, como a Itália, a população é alfabetizada e possui
elevada cultura. Isso porque todos têm acesso à literatura erudita. O que
existe, no Brasil,é um certo preconceito segundo o qual as minorias que podem
participar das formas requintadas de cultura são sempre capazes de
apreciá-las,o que não é verdade.As classes dominantes são geralmente
desprovidas de percepção e interesse real pela arte e a literatura, o que se vê
é mero esnobismo, porque este ou aquele autor está na moda.
O
que há é a privação de bens espirituais, que fazem falta e deveriam estar ao
alcance como um direito.
Lutar
pelos direitos humanos abrange várias lutas, inclusive o acesso à todos dos
diferentes níveis da cultura.A função da arte e da literatura em todas as
modalidades e em todos os níveis é um direito intransferível, e só uma
sociedade justa pode oferecer o respeito ao próximo, através dos direitos
humanos.
2.2.LITERATURA E SUBDESENVOLVIMENTO
A utopia de que a
América se constituiria de um lugar privilegiado, narrado pelos conquistadores,
no primeiro documento relativo ao nosso continente, a carta de Colombo,
mostra-nos o deslumbramento e a exaltação da terra conquistada. Esse pensamento
persistiria ainda por muito tempo depois. Antônio Vieira, aconselhou a
transferência da monarquia portuguesa para o Brasil, no século XVII, talvez
numa palavra profética. Mais adiante, surge a idéia de que a América Latina
tinha sido predestinada a ser a pátria da liberdade.
Segundo
Mello(1963 apud CÂNDIDO, 1989,p.140), houve alteração marcada de perspectiva,
pois até mais ou menos o decênio de 1930 predominava entre nós a noção de “país
novo”, que atribuía a si mesmo grandes possibilidades de progresso futuro. Sem
ter havido modificação essencial na distância que nos separa dos países ricos,
o que predomina agora é a noção de “país subdesenvolvido”.
A
idéia de país novo produz na literatura atitudes de puro sentimentalismo e
esperança quanto às possibilidades. Vemos isso nitidamente no Romantismo- o
nosso céu era mais azul, as nossas flores mais viçosas, a nossa paisagem mais
inspiradora que a dos outros lugares, no poema “Canção do exílio” de Gonçalves
Dias. O conceito de pátria estava intrinsecamente ligada à de natureza.
A
consciência de subdesenvolvimento é posterior à Segunda Guerra Mundial e se
manifesta claramente a partir dos anos de 1950. Mas desde o decênio de 1930
houve mudança de pensamento, percebido principalmente na ficção regionalista.
O
problema do analfabetismo, que tem suas raízes desde os primeiros tempos da
história da educação no país, em que apenas alguns tinham acesso à escola, tem
influenciado na formação de leitores. Na maioria dos países subdesenvolvidos,
há grandes massas ainda fora do alcance da literatura erudita. Quando
alfabetizadas e absorvidas pelo processo de urbanização, passam para o domínio
da internet, da televisão, constituindo a base de uma cultura de massa. Daí a
alfabetização não aumentar o número de leitores de literatura.
A
dependência cultural é outro fator relevante. Os escritores se voltavam para os
padrões metropolitanos e europeus em geral, formando um agrupamento elitizado
em relação ao homem inculto. Eles escreviam como se na Europa estivesse o seu
público ideal, e assim se dissociavam muitas vezes da sua terra.
Cândido(1989,p.149). explica isso:
...as
elites imitavam, por um lado, o bom e o mau das sugestões européias; mas, por
outro, às vezes simultaneamente, afirmavam a mais intransigente independência
espiritual, num movimento pendular entre a realidade e a utopia de cunho
ideológico. E assim vemos que analfabetismo e requinte,cosmopolitismo e
regionalismo,podem ter raízes misturadas no solo da incultura e do esforço para
superá-la.
O
que há de mais grave sobre a produção literária são as influências produzidas
pelo atraso, anacronismo, degradação e confusão de valores. As literaturas
latino-americanas, como também as da América do Norte, são galhos das
metropolitanas. O nosso vínculo com as literaturas européias é um fato quase
natural.
3.ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO LEITOR NA ESCOLA
3.1.ESCOLARIZAÇÃO DA LITERATURA
Folheada, a folha de um livro retoma
O lânguido e vegetal da folha folha,
E um livro se folheia ou se desfolha
Como sob o vento a árvore que o doa;
Folheada, a folha de um livro repete
Fricativas e labiais de ventos antigos,
E nada finge vento em folha de árvore
Melhor do que vento em folha de livro.
Todavia a folha, na árvore do livro,
Mais do que imita o vento, profere-o:
A palavra nela urge a voz, que é vento,
Ou ventania varrendo o podre a zero.
João Cabral
de Melo Neto
Os
gregos difundiram a leitura via escola, a partir do século VI a.C.,
intensificando-se no século IV a.C. e seguintes.Originalmente, predominou a
forma de leitura em voz alta.A propagação da escola sugere que tinham como
finalidade a educação da juventude.No século I a.C., Roma começa a consolidar
sua expansão geopolítica, conquistando o norte da África e a Gália, hoje
França.O período republicano romano, conta com um processo de escolarização
organizado, que favorece à leitura.
Somente
no século III d.C. difunde-se a prática da leitura silenciosa, tendência que se
consolida graças a uma transformação de ordem técnica: a substituição do volumen ou rolo pelo códex, formato
aproximado ao que tem hoje o livro. Igualmente decisivo foi o processo gráfico
ocorrido durante o século XII: torna-se comum separarem-se as palavras
escritas,sistema que facilita a leitura.Esta ,por sua vez, se transforma em
exercício escolar e depois de algum tempo universitário..
O
estudo da leitura, por sua vez, não requeria um fundamento teórico; mas
dependia de uma metodologia eficaz, para se efetivar por meio da alfabetização.
No entanto,quando a leitura se tornou verdadeira mania,após passar pelo
processo de industrialização no século XVIII, requereu uma reflexão de outro
tipo, em que se pensava não o aprendiz criança, mas o consumidor adulto.
Desde
o século XIX, com intensidade maior no século XX, proliferaram as teorias da
alfabetização. Essas se desenvolveram especialmente em países pobres, onde, até
hoje, se encontram tanto grandes contingentes de iletrados. Essa separação faz
com que a literatura permaneça inatingível às camadas populares que tiveram
acesso à educação, reproduzindo-se a diferença por outro caminho, sendo os
letrados não mais aqueles que sabem ler, e sim os que lidam de modo familiar
com as letras. Até certo período da história do Ocidente, o leitor era formado
para a literatura; hoje, ele é alfabetizado e preparado para entender textos
escritos, mas nem sempre a literatura se apresenta no seu horizonte.
3.2.A ESCOLARIZAÇÃO DO TEXTO
Vocês, garotos de colégio, não perguntem ao poeta
Quando nasceu.
Ele não nasceu.
Não vai nascer mais.
Desistiu de nascer quando viu que o esperavam
Garotos de colégio de lápis em punho com professores
Na retaguarda comandando: cacem o urso polar,
Tragam-no vivo para fazer uma conferência.
Carlos
Drummond de Andrade
Literatura
infantil e escola mantiveram sempre uma estreita relação, na tradição
brasileira. A escola conta com a literatura infantil para difundir conceitos,
sentimentos, atitudes e comportamentos através de narrativas ou pela força
encantadora dos versos. Os livros para crianças sempre tiveram presença
marcante na escola, quer seja por leitura obrigatória, ou como complemento de
atividades pedagógicas ou para premiar melhores alunos.
Hoje em dia
as tiragens dos livros infantis são superiores às dos livros não infantis e seu
escoamento é rápido e seguro. O aumento da população escolar favoreceu a
profissionalização do escritor de literatura infantil.
Até os anos
cinqüenta/sessenta era prática corrente a utilização de textos literários como
pretexto para exercícios gramaticais. Hoje, as atividades mais freqüentemente
sugeridas para despertar e desenvolver o gosto pela leitura estão a
transformações do texto narrativo em roteiro teatral; a reprodução em cartazes
do tema, da história ou de personagens de livro etc.Lajolo(1997, p.70,71) diz:
A
freqüência com que essas atividades são
sugeridas em fichas de leitura, encartes, suplementos e similares só se compara
à sofreguidão com que, quando ausentes, são solicitados pelos caros mestres, às
voltas com a árdua tarefa não só de fazer com
que seus alunos leiam,mas, principalmente, de fazer alguma coisa com o
que seus alunos efetivamente leram.
Ocorre
a banalização do ato de ler se não houver atenção para os níveis metafóricos do
texto e da leitura. Sem livros disponíveis, com professores despreparados essas
atividades funcionam como uma varinha mágica que transformará crianças mal
alfabetizadas em bons leitores. Sem a familiarização com os livros,
professores, maus leitores, na rotina de tais atividades provocam riscos de
alienação da leitura.
Se
houver planejamento do professor das atividades de leitura de acordo com a
necessidade de sua classe, uma conversa com seus alunos e suas leituras, essas
atividades adquirirão sentido e poder, tornando-se práticas significantes. É o
que afirma Lajolo(1997,P.74):
Que os
professores lutem por uma formação competentes, regular e supletiva, que os
liberte da tutela de cursos efêmeros e do paternalismo autoritário de receitas
de leituras apostas a livros; que os autores se mobilizem no sentido de fazerem
frente à escolarização de seus textos; e que os demais envolvidos-nós todos-
discutamos nos circuitos, bastidores e arrabaldes da literatura infantil o
caráter histórico da organicidade institucional dos livros infantis, refinando
categorias para a compreensão dessa historicidade que também nos envolve,
cumprindo,assim, de forma mais crítica, o papel que nos cabe, e que ninguém cumprirá
por nós.
4.O LEITOR NA SALA DE AULA
4.1.O TEXTO NA SALA DE AULA
A presença do
texto na escola cumpre várias funções, menos o de objeto de prazer. O que
acontece nas escolas é que o texto vira pretexto, ser intermediário de
aprendizagens outras que não ele mesmo. O autor o produz individualmente e deve
ser leitura igualmente individual de um leitor.
O
professor deve assumir com os alunos uma perspectiva que respeite a natureza
específica do texto. Assumindo também a posição de leitor, leitor mais maduro,
mas leitor. Sem produzir respostas antecipadas às discussões e atividades
propostas a partir da leitura, isto deve ser feito pelo aluno. O que ocorre
muitas vezes é que o professor não é um bom leitor e por isso a dificuldade de
formar bons leitores. Os textos não apresentam significados e certamente não
apresentarão significados para os alunos. O papel do professor é fundamental na
formação do leitor. Acreditamos que se tivéssemos docentes leitores
conseguiríamos aumentar o número de leitores no nosso país.
É
necessário que o mestre pratique a leitura e goste de ler e que o aluno perceba
isto. O aluno deve ter a liberdade de escolher seus textos, isso não acontece
no cotidiano escolar. Ao fazer do texto pretexto, o professor corre o risco de
contribuir para a alienação do processo educativo.Lajolo(1985,p.53) afirma:
Se a
relação do professor com o texto não tiver um significado, se ele não for um
bom leitor, são grandes as chances de que ele seja um mau professor. E, à
semelhança do que ocorre com ele, são igualmente grandes os riscos de que o
texto não apresente significado nenhum para os alunos, mesmo que eles
respondam satisfatoriamente a todas as
questões propostas.
Na leitura em sala de aula, o aluno
deve ter a liberdade de escolher seu texto. Essa liberdade parece, às vezes,
distante do seu dia-a-dia escolar. Tudo o que chega à escola via livro didático
parece tornar-se inquestionável. Transforma-se numa verdade absoluta, e duvidar
dela ou discuti-la costuma, em muitos casos, refletir-se negativamente na
avaliação do aluno.
Segundo Lajolo(1985,p.54) “o
professor corre o risco de contribuir para a alienação do processo educativo. E
ao fazer do texto pretexto de qualquer forma de dogmatismo, está desfigurando o
texto.
Vale ressaltar que o que ocorre também é que mesmo com um
texto ruim, se pode fazer um bom trabalho. Desde, é claro, que se trate de um
bom leitor; levando a sério a autonomia em relação aos livros didáticos. Mas,
assim como um bom leitor pode atenuar a carga negativa de um mau texto, um bom texto pode ser prejudicado
por um mau leitor.
Os textos devem ser contextualizados para e pelos alunos.
Professores bem intencionados se vêem diante dos programas, encarnados nas
autoridades escolares, que fiscalizam aulas, diários, avaliações. No terceiro
ano do ensino médio, são os próprios alunos que cobram do professor o
cumprimento de um programa gramatical extenso e inspirado nos exames
vestibulares.
A
aprendizagem das modalidades cultas da linguagem, só é suficiente na medida em
que habilita o aluno a produzir textos nela, a reconhecê-la quando frente a ela
e, mais importante, perceber as ocasiões oportunas para utilizá-las. Trata-se
de contextualizar as normas gramaticais.
O texto para
ser bom, segundo Lajolo, não é necessariamente incompreensível, mas o bom texto
é necessariamente complexo. Não complexo na sua manifestação exterior, mas na
relação que há entre ele (texto) e o leitor. E isso é possível quanto mais
maduro for o leitor e melhor for o texto. Portanto é preciso expor ao aluno uma
variedade de textos, se realmente queremos que ele melhore sua leitura. E essa
melhora não se verifica através de memorização ou velocidade de leitura, mas
através dos níveis sucessivos e simultâneos de significados que o aluno(leitor)
vai construindo para o texto.
O que se
percebe em nossas salas de aulas são preconceitos. Preconceitos contra alguns
tipos de textos. Isso tem que ser exterminado. Deve-se proporcionar ao aluno
maior contato com o texto literário e não mera exposição da história da literatura.
A leitura de textos literários é o que o transformará em leitor maduro. Não
adianta estudar a biografia de José de Alencar, por exemplo, e o Romantismo, se
o aluno não tiver contato com a obra do
autor,se ele verdadeiramente não conhecer o autor,através da sua obra.
Nos textos de
livros didáticos, temos a proposição de exercícios chamados de compreensão.
Esta compreensão não deve ser esgotada em si. Saber só isso de um texto é muito
pouco. Estaríamos assim transformando o texto numa leitura redutora. Deve haver
a criticidade e a contextualização do texto. É preciso que os alunos se
identifiquem com o mesmo. Transformar as ocorrências do texto em algo
significante. Lajolo(1985, p.59) define o ato de ler da seguinte forma:
Ler
não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a
partir de um texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir
relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer
nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade,
entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não
prevista.
O
texto presente nos livros escolares se presta, muitas vezes, ao papel de
“motivador de redações”. Há quem acredite que, por um milagre, o aluno que lê
um bom texto está automaticamente apto a produzir um texto bom. A relação entre
o ler e escrever é algo mais forte do que usar a tecla da criatividade.
Partir
de um texto para a produção de outro pode ser eficiente, desde que não se
abandone a perspectiva de que é o processo de significação atualizado no texto
escrito, formado como ponto de partida, que pode provocar o processo de
significação do texto a ser criado.
No
ensino médio da maioria das escolas públicas brasileiras, a literatura é
apresentada em uma única aula semanal. O professor, portanto, não tem o tempo
necessário para trabalhar o texto literário, haja vista, a indisponibilidade de
tempo. Mesmo diante de tamanha dificuldade, o que importa é a postura do
professor, É a atitude com que ele, juntamente com a classe, se entrega ao
texto. Que dê sentido crítico ao texto. Só desta forma é que o texto pode
deixar de constituir pretexto e ilustração do que se convencionou chamar de
história da literatura. Como diz Lajolo(1985, p.62):
E a
cada novo texto com que se defronta, o aluno pode vivenciar de forma crítica a
atitude de sujeito, não só de sua linguagem, mas de uma teoria e uma história
da literatura de seu povo. A não ser assim, a literatura não cumprirá sua
função maior no contexto, se não da escola, ao menos da formação do indivíduo
livre.
As
atividades escolares das quais o texto participa precisam ter sentido. É a
partir da literatura que a importância do sentido do texto se manifesta em toda
a plenitude. A relação entre aluno/texto, professor/texto deve ser de diálogo.
É a partir do texto que cada um vive a grande aventura.
4.2.A POESIA NA ESCOLA
Está
claro que a personalidade do professor e particularmente, seus hábitos de
leitura são importantes para desenvolver os interesses e hábitos de leitura nas
crianças, sua própria educação também contribui de forma essencial para a
influência que ele exerce.
Richard
Bamburger
A
leitura literária em geral requer condições indispensáveis, isto já foi comentado
desde o início deste artigo. No entanto, a leitura do texto poético tem
peculiaridades e carece de mais cuidados que o texto em prosa. Dentre os
gêneros literários, a poesia é o que está mais distante da sala de aula, por
isso, a tentativa de aproximá-la dos alunos deve ser feito de forma planejada.
A
primeira condição indispensável é que o professor seja realmente um leitor, que
tenha uma experiência significativa com leitura. Isto não significa que ele
tenha que ser um erudito, mas que embora tenha lido poucas obras, o fez de
forma proveitosa, que conheça poemas centrais de determinados poetas. Sobre
isso, PINHEIRO(2002, P.24)em sua obra Poesia
na sala de aula comenta:
Um
professor que não é capaz de se emocionar com uma imagem, com uma descrição, com
o ritmo de um determinado poema, dificilmente revelará na prática, que a poesia
vale a pena, que a experiência simbólica condensada naquelas palavras são
essenciais em sua vida. Creio que sem um mínimo de entusiasmo, dificilmente
poderemos sensibilizar nossos alunos para a riqueza semântica da poesia.
Isso
tem sido comprovado em nossa experiência em sala de aula. Lecionamos no ensino
médio de uma escola pública estadual em Sobral, interior do Ceará. Percebemos
de início que o desconhecimento dos alunos de poesia era grande. Começamos,
então a introduzir em nossas aulas leituras de poesias. Semanalmente, trazemos
pra sala, paradidáticos de nossa biblioteca escolar, livros de poesias
selecionadas de autores consagrados da literatura e também literatura de cordel,principalmente
Patativa do Assaré.
Depois
da leitura silenciosa e individual, os alunos selecionam as que mais gostam. As
poesias selecionadas, lemos em voz alta para eles. É impressionante o que
percebemos. Conseguimos despertar o interesse deles e notamos como eles gostam
de poesia. Eles gostam de ouvir o professor lendo. Ficam todos atentos. A
procura por livros, principalmente de poesias, na biblioteca de nossa escola
têm aumentado.
Somos
de vez em quando surpreendidos por alunos nos corredores da escola, após as
aulas ou até mesmo por “e-mail”, pedindo-nos cópias de poesias que lemos em
sala de aula. Outro dia levamos Mário Quintana pra eles e começaram a procurar
na biblioteca livros de Mário Quintana. Vale ressaltar que esta leitura é feita
sem cobranças. É uma leitura pelo simples prazer de ler e viajar no mundo das
palavras. O que mais nos impressionou foi que,
a partir de uma atitude tão simples do professor, o de assumir a postura
de leitor maduro, fez a grande diferença. É preciso não só falar para o aluno
que ele deve ler, mas mostrar isso pra ele, lendo. É preciso que o aluno veja
em nós um leitor. Não poderemos formar leitores se não formos leitores. E isso
tem que ser uma prática diária em nossa sala de aula.
Outra
condição é que antes do planejamento, o professor faça uma pesquisa sobre os
interesses dos alunos. Atento a isto, o professor oferece, inicialmente, poemas
mais facilmente apreciados, levando em consideração o conhecimento das fases de
desenvolvimento intelectual e afetivo da criança e do adolescente. Se
necessário pedir sugestões a eles, desde que a experiência não se esgote nesses
dados. Se tivermos em salas do ensino médio, onde as experiências são mais
diversificadas, já se devem discutir inclusive, questões de linguagem deste
e/ou daquele autor.
Hélder
Pinheiro sugere que o ambiente em que se vai trabalhar a poesia deve ser
indispensável. Deve-se criar um ambiente adequado, sobretudo nos primeiros anos
de estudo. Ir ao pátio da escola para ler, pôr uma música de fundo no momento
da leitura. Todas essas condições dizem respeito à prática do professor, mas há
outros que fogem ao domínio do professor.
É
imprescindível o uso da biblioteca, ir à biblioteca escolher livremente a
prateleira que quiser, descobrir autores desconhecidos. Para que isto aconteça,
a biblioteca deve ser um lugar agradável e não um mero depósito de livros, como
acontece em muitas escolas brasileiras.
Mesmo
criando as condições mais adequadas para favorecer o hábito de leitura, muitas
vezes, nos escapam muitos possíveis leitores-sobretudo se o trabalho não for
iniciado nas séries iniciais. A condição essencial é iniciar a criança o mais
cedo possível no mundo da leitura, seduzi-la desde cedo para a riqueza interior
que a leitura pode nos proporcionar. Concluímos com Micheletti( 2002,p.67) :
Que a
escola desenvolva no aluno(leitor)sua habilidade para sentir a poesia, apreciar
o texto literário, sensibilizar-se para
a comunicação através do poético e usufruir da poesia como uma forma de
comunicação com o mundo.
4.3. A NARRATIVA NA SALA DE AULA
Um traço comum
entre os povos da terra é o gosto pelas histórias. Todos gostam de inventar,
contar e ouvir histórias. Contar histórias é uma atitude que nos vem desde os
primórdios da humanidade. Em tempos muito antigos, as pessoas se reuniam para
ouvir histórias e... aprender; contar histórias e ouvi-las era uma forma de
ensinar e aprender. O narrador era alguém mais velho que transmitia o seu saber
aos mais jovens.
Histórias
são narrativas, são relatos e sucessões de ações que se encadeiam. Podem ser
classificadas de várias maneiras. Certas narrativas são em versos, outras são
em prosa. Algumas têm diálogos, outras não, não importam como são, o que é
impressionante é como isso se tornou parte de nossa tradição, mantida pelas
mães e avós que contavam histórias às suas crianças. O mundo mudou, mas
continuamos contando histórias, ouvindo histórias e lendo histórias. E a
escola, hoje, tem um papel fundamental nessa tradição, tendo como orientador o
professor, como diz Micheletti(2002., p.66):
O
professor não é o narrador que relata diretamente os acontecimentos, mas um
mediador desse relato. Como mediador, ele é um primeiro leitor que vai transmitir os eventos da narrativa, mas é sobretudo um comentador dessa narrativa.
O que acontece é
que essa mediação não é tarefa fácil, pois várias questões interferem: desde a
seleção do texto até focalizá-lo. Quanto à escolha tem que se levar em consideração o que se pretende
ensinar ou com que atividade lúdica se queira introduzir no espaço da sala de
aula. A questão principal é: como lidar com um texto se o nosso objetivo é
formar o tão sonhado leitor crítico?
Existe, portanto, a necessidade de se refletir um pouco sobre as abordagens de
narrativas na sala de aula.
Para
Micheletti, existem duas formas de se iniciar um enfoque: a análise externa e a
análise interna. Na análise externa, se detém às condições de produção da
narrativa, incluindo fatores como elementos socioculturais e a individualidade
do autor. A análise interna prende-se à obra enquanto tal, considerando a sua
estrutura e o que ela comunica excluindo as avaliações externas, biografia do
autor, história da composição etc. Em síntese, qualquer modelo teórico de
abordagem pode ser eficiente, desde que se explorem as suas virtudes e se
busque ultrapassar as suas limitações.
Dentre
os gêneros textuais narrativos, o conto torna-se mais fácil de ser lido com os
alunos em sala de aula, por ser uma narrativa curta. Ler um romance requer mais
tempo e o professor não dispõe do mesmo. O conto é perfeito, pois, o professor
em companhia dos alunos pode explorá-lo minuciosamente.
5.A BIBLIOTECA ESCOLAR E SUA INFLUÊNCIA NA
FORMAÇÃO DE LEITORES
...ensino
e biblioteca são instrumentos complementares (...);ensino e biblioteca não se
excluem, completam-se.Uma escola sem biblioteca é um instrumento imperfeito.A
biblioteca sem ensino, ou seja, sem a tentativa de estimular, coordenar e
organizar a leitura, será, por seu lado, instrumento vago e incerto.
Lourenço Filho
A necessidade de instalação de
bibliotecas em nossas escolas não é tão nova ou recente como parece. Ainda
hoje, muitas escolas brasileiras não possuem bibliotecas, ou quando possuem não
apresentam condições concretas para a formação de leitores e, conseqüentemente,
para a disseminação do hábito de leitura. As bibliotecas assumem papel
fundamental ao possibilitar às pessoas o acesso à leitura, através do seu
acervo e mais precisamente, através daqueles que são a mais fiel tradução do
conhecimento disponibilizado no mundo: os livros.
Atualmente, no Brasil, a escola
transformou-se na principal agência responsável pelo ensino do registro verbal
da cultura. Em outras palavras, o acesso à leitura significa ter acesso à
escola e nela obter as habilidades e os conhecimentos necessários à
participação no mundo da escrita.
Sabe-se que o processo de leitura em
nosso país está relacionado diretamente à nossa problemática social. A maioria
das famílias brasileiras não tem condições financeiras para aquisição de
livros. E isso já faz parte de uma cultura, ler é atitude de poucos aqui. Vemos
a diferença quando analisamos as famílias e observamos alunos em que os pais
são leitores e alunos em que os pais não o são. Alunos, filhos de pais leitores,
têm maior possibilidade de tornar-se também um leitor. É lógico que isso não é
uma regra, mas na maioria dos casos acontece.
A escola tem um sério compromisso na
formação de leitores em nosso país. A biblioteca escolar deve ser um lugar de
acesso à literatura crítica e democrática. Deve ser um lugar onde alunos,
professores visitem regularmente. Não deve ser jamais um instrumento de
correção para alunos indisciplinados. O que tem que acontecer em nossas escolas
é uma política mais centralizada de incentivo à leitura. Não basta o professor
mandar o aluno ler, ele (o professor) deve ser antes, um leitor. Ezequiel
Theodore da Silva(1999,p.112),defende a respeito do que deveriam ser nossas
bibliotecas escolares:
Ela deve se colocar como o cérebro da
escola, ou seja, o local de onde partem os movimentos básicos em direção a
recriação ou criação do conhecimento, servindo a professores, alunos e
comunidade. Caso seja definida desta maneira, a biblioteca deixa de ser um
complemento ou apêndice secundário de trabalho, transformando-se num recurso
básico para as decisões curriculares, permitindo a atualização pedagógica dos
professores, a aprendizagem significativa dos estudantes e a participação da
comunidade em termos de indagações várias.
O
que melhor caracteriza uma biblioteca não é a beleza de sua decoração, mas sim
a qualidade do seu acervo e a funcionalidade dos seus serviços. A qualidade do
acervo da biblioteca é estabelecida pelo atendimento às necessidades reais da
leitura dos usuários. A funcionalidade dos serviços é definida pela própria
dinâmica da biblioteca, nos aspectos de seleção e aquisição das obras e pela
sua capacidade em atrair e aumentar o público leitor.
Algumas
ações em prol da leitura já estão sendo realizadas em nossas escolas, mas não é
o suficiente. Para que se possa promover a leitura, faz-se necessário um
esforço entre bibliotecários, professores, profissionais ligados à área de
leitura, governos e entidades, a fim de que se realizem ações concretas para
que a biblioteca seja estímulo para a formação de um aluno leitor. É também
através da biblioteca escolar que a escola e a comunidade podem deixar sua
marca na cultura e na história.
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
literatura é uma necessidade universal. Seu papel é desenvolver nas pessoas um
espírito analítico e crítico; mas isso só acontece quando lhes é dada a
oportunidade. É, portanto, um direito. Quando se fala em direitos humanos,
segundo Cândido, pensamos naquilo que consideramos indispensável para nós e
também indispensável para o próximo. Lutar pelos direitos humanos abrange
várias lutas, inclusive o acesso a todos os níveis de cultura e isso inclui a
literatura.
Nos
países em desenvolvimento, como o Brasil, o problema do analfabetismo, que tem
suas raízes desde os primeiros tempos da história da educação no país, em que
apenas alguns tinham acesso à escola, tem influenciado na formação de
leitores,ao contrário dos países desenvolvidos,pequenas massas têm acesso à
literatura erudita.
A partir dos gregos a literatura
entra na escola, e a partir daí também ocorre a banalização do ato de ler. O
que existe em muitas escolas é falta de livros disponíveis e professores
despreparados. Sem a familiarização com os livros, professores, maus leitores,
sem planejar suas atividades de acordo com a necessidade de sua classe, pode
tornar a prática de leitura insignificante e de alienação.
O papel do professor é fundamental
na formação de leitores. É necessário que o mestre pratique a leitura e goste
de ler e que o aluno perceba isto. Os hábitos de leitura do professor são
importantes para desenvolver os interesses e hábitos de leitura nos alunos.
Através da poesia, ou mesmo numa narração em sala de aula, o professor poderá
emocionar seus aluno e mostrar-lhes que ler é uma atividade prazerosa. É
necessário que a escola aprecie o texto literário para sensibilizar o educando
à comunicação com o mundo.
A biblioteca escolar assume o
compromisso com a criança ou adolescente de proporcionar-lhe textos de
qualidade, que intervenham na formação das mentes e levem-no ao exercício da
reflexão, além de promover o acesso à literatura de qualidade.
A literatura é o meio de aquisição
de conhecimento e humanização do leitor. Exerce no meio social, papel
importante, sobretudo no homem. Mas isto só ocorrerá plenamente se for
concedida a importância que lhe cabe, através de um esforço de interpretação e
compreensão do seu significado. Essa interpretação e compreensão resulta da
ação que efetuamos no dia-a-dia: a prática da leitura.
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VERÍSSIMO, Érico . O Tempo e o Vento. 1ª edição .São
Paulo, Editora Globo,2004.
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