sábado, 6 de outubro de 2012

Alfabetização e Letramento: Análise do Pró-letramento no Município do Cariré (CE).





                                                                                            Maria da Lapa Lopes Freitas



 A presente pesquisa tem como objetivo apresentar os resultados obtidos sobre Alfabetização e Letramento, que compreende uma dimensão social, política, cultural e educacional, em que envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre a representação lingüística. O mundo letrado exerce sobre as pessoas que já não lhes basta a capacidade de desenhar letras ou decifrar o código da leitura, mas sim exigir verdadeira condição para a sobrevivência e a conquista da cidadania. No primeiro capítulo em que fala sobre os fundamentos teóricos, ficou esclarecido que hoje além de conhecer o funcionamento do sistema de escrita e poder se engajar em práticas sociais letradas precisamos nos preocupar com a diferença entre alfabetizar e letrar. Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por indivíduo ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade. Isto mostra que os dois processos são importantes e, por esta razão os mesmos devem acontecer simultaneamente, justamente por conta da dimensão social das várias manifestações escritas em cada comunidade. Através desta definição podemos compreender que o letramento como um conjunto de práticas sociais, que será necessário o domínio da língua escrita, e isto, só ocorrerá, se as crianças começarem a utilizar esta escrita de forma significativa. Por esta razão não será aconselhável estudar isoladamente o código, porque aprender a ler e escrever não indica exclusivamente o conhecimento das letras e do modo de decodificá-los, mas a possibilidade de usar esse conhecimento em benefício de formas de expressão e comunicação, pois é de nosso conhecimento, a maioria dos jovens termina o 2° grau sem nenhuma habilidade de expressão e comunicação, dominado pelo medo e a timidez, por falta do contato do conhecimento prático social que estes jovens não vieram a ter. Ferreiro tenta expressar de forma estritamente o perigo da dissociação entre o aprender a escrever e usar a escrita, devido o retrocesso, pois para ela isto representa a volta do tradicional, compreensão instrumental da escrita, quando a mesma é uma defensora de práticas pedagógicas contextualizadas e significativas para o sujeito . Portanto, Emília Ferreiro, como outros estudiosos do letramento apelam para o resgate das efetivas práticas sociais da língua escrita e, o que há de oposição entre os mesmos, é simplesmente o ponto de vista conceitual: alfabetizar letrando significa descobrir, usar e aprender a escrita.    


            Por ocasião da elaboração desta monografia, tento resgatar através de pesquisa  os fundamentos teóricos e práticos sobre leitura e as modernas práticas de alfabetizar através da cultura escrita.A mesma resulta de muito esforço e dedicação, na qual pude fazer reflexões a respeito da importância da alfabetização e do letramento, processos educativos estes, que segundo as pesquisas são inseparáveis, devido os mesmos poderem acontecer simultaneamente
            No 1º momento, destacarei os fundamentos teóricos sobre o processo da alfabetizar letrando, através de conceitos, em que será abordadas várias estratégias de leitura e escrita, fundamentada em autores consagrados em que descreve a alfabetização através de uma aprendizagem significativa. Além disso, será também dado ênfase ao método global, por ser o que mais se aproxima para a construção do conhecimento da criança em relação a leitura e a escrita. Método que nos faz acreditar que por meio dele, a criança terá uma aquisição mais objetiva e real das capacidades sobre a leitura diversificada no mundo da cultura escrita.
            No decorrer do desenvolvimento desta pesquisa será enfatizado da importância do ato de ler e escrever, ainda que a criança não domine tais habilidades de modo convencional.Além desses aspectos,serão abordados também vários modelos de leitura, partindo da própria realidade da criança, por ela já possuir conhecimentos prévios de sua cultura, e daí facilitar o processo de escrita.Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa de 1º a 4º séries ressaltam que:

“Não se formam bons leitores solicitando aos alunos que leiam apenas durante as atividades na sala de aula, apenas no livro didático, apenas porque o professor pede. Eis a primeira e talvez a mais importante estratégia didática para a prática de leitura: o trabalho com a diversidade textual. Sem ela pode-se até ensinar a ler,mas certamente não se formarão leitores competentes”.(1997. 55)

 Tendo em vista esta afirmação, concordo plenamente,com o  fato da criança  ter oportunidade de adquirir um conhecimento diversificado, e daí despertar  o interesse pela leitura não mais de forma obrigatória, mas sim de maneira prazerosa.


             Ainda, nesta pesquisa, veremos a teoria da Psicogênese da Escrita de Emília Ferreiro e Ana Teberosk, em que serão apontadas modernas práticas de alfabetizar, desde a formulação das hipóteses até a solidificação do conhecimento real do processo da aquisição do sistema de escrita, através das hipóteses do processo de alfabetização, que compreende: pré-silábica, silábica alfabética. Conhecendo estes três processos facilitará para o professor saber aplicar a avaliação diagnóstica.Nesta mesma oportunidade veremos o letramento como desafio e expectativa para algumas escolas, que  ainda limita o conhecimento para a criança aprender distanciada de sua vivência. Junto a essa abordagem será dado importância a responsabilidade, as condições e o perfil do profissional na cultura letrada.
             Assuntos esses serão abordados no 2º capítulo, por retratar o letramento no âmbito nacional . Para reforçar esta pesquisa, a autora Sylvia Bueno Terzi, em sua obra: a construção da leitura, e outros autores, terão participação bem significativa com relação a importância do compromisso para com o letramento nas suas diversas dimensões : social,política,conômica e cultural. Sendo que essas duas últimas requerem uma atenção maior, devido a maioria de nossas crianças pertencerem a comunidade pobre, em questão econômica e conseqüentemente em cultura Por esta razão, a pesquisa trará maiores esclarecimentos  sobre a responsabilidade e compromisso sério das escolas para se alfabetizar letrando
             No 3º capítulo, será dado enfoque a parte específica do curso Pró-letramento, que tem como objetivo auxiliar o professor nas modernas práticas de alfabetizar dentro da cultura escrita, num período de três anos, com crianças de seis, sete e oito anos, Por ser o momento mais importante na aquisição do conhecimento das mesmas.O mesmo se desenvolve devido sua estrutura com relação as propostas e a  avaliação dentro de uma dinâmica de grupo, através da qual se dá todo apanhado do conhecimento teórico e prático.
             Ainda fará parte do estudo do 3º capítulo, a experiência do curso pró-Letramento, através das aulas ministradas com professores do 1º ao 5º ano, que dará como subsidio aos futuros leitores um vasto conhecimento teórico, além da análise prática dos resultados do curso pró-Letramento na cidade de Cariré.

1.FUNDAMENTOS  TEÓRICOS                                                                                     
 
  1.1- Conceito de Alfabetização

Historicamente, o conceito de alfabetização, definia o ensino-aprendizado do sistema alfabético de escrita. Isto significa, na leitura, desenvolver a capacidade de decodificar os sinais gráficos, transformando-os em sons e, na escrita, a capacidade de codificar os sons da língua, transformando-os em sinais gráficos.
Na história no ensino do Brasil, as primeiras cartas ou cartinhas de alfabetização foram produzidas em Portugal, chegando até nós no final do século XVI. Entretanto são esparsas as informações sobre cartilhas entre os séculos XVI e XVIII, já o século XX foi marcado pela expansão das escolas e pelo bom editorial dos livros didáticos. Nas cartilhas, a opção pelo método-analítico, sintético ou misto,definia o formato das lições, as orientações para o professor e as atividades para os alunos, de forma fragmentados e descontextualizados. Atualmente, as cartilhas cederam espaço para os livros de alfabetização distribuídos para todas as escolas. Os alunos podem ler e escrever em seus próprios livros, que se baseiam em diferentes concepções sobre ensinar e aprender a ler e a escrever, sempre na perspectiva do letramento.
               A partir dos anos 80, o conceito de alfabetização foi ampliado pelas contribuições dos estudos sobre a psicogênese da língua escrita, particularmente pelos trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberovsky. De acordo com esses estudos, o aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao domínio de correspondências grafo-fonêmicas (a decodificação e a codificação), mas se caracterizaria como um processo ativo no qual a criança, desde seus primeiros contatos com a escrita, constrói e reconstrói hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da língua escrita como um sistema de representação.
            Além das contribuições da psicogênese da escrita, também as necessidades da vida social contemporânea mostraram as limitações do conceito de alfabetização compreendido apenas como o domínio das “primeiras letras”. Progressivamente, o termo passou a designar o processo não apenas de ensinar e aprender as habilidades de codificação e decodificação, mas também o domínio dos conhecimentos que permitem o uso dessas habilidades em práticas sociais de leitura e escrita.O termo alfabetizado, nesse
quadro, passou a designar não apenas aquele que domina as correspondências grafo-fonêmicas, mas também aquele que utiliza esse domínio em situações sociais de uso da língua escrita. Diante dessas novas exigências que surgiu o termo alfabetização funcional criada com a finalidade de incorporar as habilidades de uso da leitura, da escrita e, posteriormente, a palavra letramento.
 Com surgimento dos termos letramento e alfabetização funcional, muitos pesquisadores passaram a preferir distinguir alfabetização e letramento, passaram a utilizar o termo alfabetização em seu sentido restrito para designar o aprendizado inicial da leitura e da escrita, da natureza e do funcionamento do sistema de escrita. Passaram correspondentemente, a reservar os termos letramento ou, em alguns casos, alfabetismo.
Funcional para designar os usos (e as competências de uso) da língua escrita. Outros pesquisadores tendem a preferir utilizar apenas o termo alfabetização para significar tanto o domínio do sistema de escrita, quanto os usos da língua escrita em praticas sociais.
                                                                                                                                          
Nesse caso, quando sentem a necessidade de estabelecer distinções, tendem a utilizar as expressões “aprendizado do sistema de escrita” e “aprendizado da linguagem escrita”.
 O desafio que se coloca para os primeiros anos da educação fundamental é o de conciliar esses novos termos de alfabetizar, assegurando aos alunos a aquisição do sistema da escrita e as condições possibilitadoras do uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita.
              Assim, entende-se que a ação pedagógica mais adequada e produtiva é aquela que contempla, de maneira articulada e simultânea, a alfabetização e o letramento.
              Dentro desta ação pedagógica que ocorre, simultaneamente, nesse novo processo de aprendizagem, o educando irá desenvolver as capacidades lingüísticas de ler, escrever, falar, ouvir, e compreender em situações diferentes das familiares. Mas as mesmas não acontecem espontaneamente, elas precisam ser ensinadas sistematicamente e, isso ocorre, principalmente nos anos iniciais da Educação Fundamental.
Sabe-se que os três anos iniciais da Educação Fundamental não esgotam essas capacidades lingüísticas e comunicativas, que se desenvolve ao longo de todo o processo de escolarização e das necessidades da vida social. Sabe-se, também, que o trabalho a ser feito nesses três anos iniciais não seesgota na alfabetização ou no desenvolvimento dessas
capacidades lingüísticas. Mas elas são importantes porque é na alfabetização e no aprendizado da língua escrita que vêm se concentrando os problemas localizados não apenas na escolarização inicial, como também em fracassos no percurso do aluno durante sua escolarização.
            Para amenizar esse fracasso, faz-se necessário adquirir no seu processo de alfabetização um conhecimento fundamental sobre a natureza da relação entre a escrita e cadeia sonora das palavras que os alunos tentam escrever ou ler. Analisando as relações entre a fala e a escrita, muitas crianças chegam, Por exemplo, a elaborar as hipóteses silábicas, acreditando que cada letra representa uma sílaba e não um fonema, conforme já descreveram os estudos da psicogênese da escrita.          
É necessário que o alfabetizador (a) saiba identificar e compreender esse tipo de raciocínio feito pelos alunos, para conseguir orientá-los com sucesso na superação dessa hipótese e na descoberta da explicação que realmente funciona para o sistema de escrita do português.
Esse aprendizado, que representa um avanço decisivo no processo de alfabetização, se realiza quando o aluno entende que o princípio geral que regula a escrita é a correspondência “letra - som”, ou, em termos técnicos mais apropriados, grafema-
fonema.
            Portanto, o modelo técnico do processo de alfabetização inicial sustentará a proposta de trabalho que concebe a aprendizagem escrita como um simples sistema de representação, em que essa aprendizagem se converte na apropriação de um  novo objeto
de conhecimento. A proposta se fundamenta nas descobertas de Ferreiro e teberosky que averiguaram as hipóteses  de construção da  escrita  realizada  pelas  crianças  e os modos
 pelos quais, em trabalho conjunto, estas a transformaram em novo instrumento de expressão de suas próprias experiências de representação da realidade e da comunicação com os outros.
            Nessa nova visão de alfabetização, podemos concluir que quando a criança chega à escola já domina a sua língua utilizando-a efetivamente em situações de comunicação, porém o mesmo não se pode dizer com relação à linguagem escrita. Os professores por desconhecerem as descobertas que, a partir dos anos 70, vêm desvendando a natureza e especificidade do processo de alfabetização, trabalham a escrita com os alunos como se esta fosse um mero código de transcrição da fala.A alfabetização inicial é considerada em função da relação entre “método” e a maturação da criança, não levando em conta a natureza do objeto de conhecimento.
 Conhecer a história dos métodos de alfabetização pode levar o professor a identificar permanências e princípios norteadores que vão ajudá-lo a alfabetizar, levando em conta a situação específica das salas de aula, os conteúdos a ensinar, os processos cognitivos dos alunos e suas dificuldades e facilidades em adquirir certas habilidades.
 Métodos que surgem com a proclamação da república, em que houve um processo de expansão do ensino no Brasil.Os primeiros grupos escolares surgem em são Paulo, em 1892, e depois em todo o país institui-se, nesses grupos, a divisão em séries, o que gera, então, a necessidade de materiais específicos para cada turma.O ideário republicano nacionalista traz a preocupação em produzir materiais “mais brasileiros”, deixando de lado os termos tipicamente portugueses e os conteúdos voltados para a história de Portugal.
Ocorre aí uma mudança no emprego dos métodos: certo rompimento com sintéticos e progressiva difusão dos analíticos (globais), que partem de unidades significativas dos línguas, como palavras, sentenças ou histórias, focalizando primeiro o sentido e a memorização, para depois partir para a análise das sílabas e fonemas.
 Os métodos globais são classificados em: a) de palavração, b) de sentenciação, c) de historietas d) de contos. Como o próprio nome indica, o método da palavração toma como unidade inicial às palavras, que são memorizadas por meio de repetitiva visualização. Só depois a atenção é dirigida ás sílabas, letras e sons. Segundo os defensores desses métodos, a vantagem de começar pela palavra, é que ela é considerada, ao mesmo tempo, unidade da língua e do pensamento. O método da sentenciação segue uma lógica parecida, mas começa a análise pela frase. Já o método de historietas utiliza como ponto de partida pequenas histórias, com sentido completo em si mesmas. No caso do método de contos, os materiais didáticos trazem uma seqüência de contos, com sentidos complementares, para serem trabalhados ao longo do ano. Ambos os métodos têm como principais objetivos desenvolver no aluno a capacidade de compreensão, além de treiná-lo na habilidade de antecipar e seguir seqüências de idéias relacioná-las entre si e memorizá-las.Com histórias e contos, a leitura é estimulada como fonte de informação e de prazer.
 Na década de 1920 ocorreram reformas educacionais em vários estados brasileiros, buscando consolidar o ideário republicano. As reformas colocaram o aluno no centro do processo de educação. A mesma foi um marco por que instituiu a adesão oficial aos métodos analíticos.
No bojo da reforma Francisco Campos, idealizou-se a escola de aperfeiçoamento, com o objetivo de difundir o método global e o ideário da escola nova na educação primária em minas. O escolanovismo preconizava a função socializadora da escola, a centralidade do individuo no processo de aprendizagem, a educação para a vida, o caráter cientifico da educação, com contribuições da psicologia, da sociologia, dentre outras. Lúcia Casasanta, responsável por ensinar os métodos de alfabetização ás professoras na escola de aperfeiçoamento, era uma das maiores defensoras do método global de contos.
A implantação do método global foi influenciada pelas pesquisas realizadas na psicologia e pelos trabalhos de Decroly, que defendia um período preparatório para a alfabetização, com uso de jogos pedagógicos que possibilitassem ás crianças a passagem do concreto ao abstrato e o desenvolvimento das discriminações auditiva, visual e tátil.
A adesão aos métodos analíticos representa também uma mudança da concepção de alfabetização, que passa a considerar que apenas a decodificação não é suficiente.O desenvolvimento do processo de compreensão de modo relativamente independente da decodificação passa a ser considerado um importante aspecto da alfabetização.
 O educador precisa ter clareza dos caminhos que vai seguir e, saber adequar o que vai ser ensinado a quem vai ensinar e para quê? Pois o mesmo tem de estar seguro em relação ao método que usa e pensar no que é valido para os seus alunos, no que ele deve fazer para chegar ás crianças, para cativá-las. Isso é tudo.
       A supervisora do programa de formação de professores alfabetizadores (profa), do mistério da educação, Telma Weisz afirma no jornal do alfabetizador, Letra A, o seguinte:
   
 “O professor é responsável por ensinar a língua escrita e também a cultura escrita. Há uma grande perda, tanto quando se foca na aquisição do sistema de escrita e se abandona a cultura escrita, sem ensinar bem a aquisição do sistema” (2005, p.08)


 Compreende-se que tanto o sistema escrito como próprio, e a cultura escrita precisam ser  ensinados paralelamente e simultamamente, por um completar o significado do outro.
Dessa forma podemos oferecer as crianças os mais variados tipos de textos, que circulam na sociedade, com as suas diversas funções. Se a criança estiver completamente inserida na cultura escrita, ela terá muita chance de tornar-se uma leitora crítica e participativa no futuro vindouro de uma sociedade.
   Jean Hébrard, inspetor geral da educação nacional da França, no jornal do alfabetizador, Letra A, afirma o seguinte:

        “A alfabetização começa aos seis anos, e compreende um período de três anos, chamado no Brasil de 1º ciclo e na França de escola maternal. Nesse espaço de tempo a criança constrói o capital cultural que, depois da alfabetização, vai permitir uma inserção plena no mundo da escrita, o tetramento em seu sentido mais amplo e completo e como capacidade de usar a escrita, precisa dessa preparação”.(2005.p .11)


 Realmente se o aluno não tiver um capital cultural já acumulado, não poderá fazer inferências na leitura de textos muito distantes de seu universo cultural de origem e não aprenderá coisa alguma. A compreensão é um sistema de interferências: com um capital cultural acumulado, você questiona e dá sentido ao texto. Para fazer inferências, o que é preciso ensinar são exatamente o capital cultural e as ferramentas, ou alfabetização, pois os dois se completam, até por que, segundo Ferreiro (1986), a compreensão da natureza do sistema da escrita e sua função implicam uma série de questões, ao lado das quais a capacidade de acompanhar um texto com os olhos  se revela absolutamente secundária. A aprendizagem da leitura e da escrita não pode restringir-se a um conjunto de técnicas perceptivo-motoras, nem à “vontade”a motivação. Antes de tudo essa aprendizagem implica uma aquisição conceitual.
       Os estudos realizados por Ferreiro e Teberosky sobre o processo de apropriação da escrita constituem um suporte valioso para esclarecer a questão relativa à aprendizagem da escrita como aquisição conceitual, ou seja, como um sistema de representação guiado pela hipótese de que todos os conhecimentos supõem uma gênese. As autoras se preocuparam em averiguar quais as formas iniciais de conhecimento da língua escrita e os processos de conceitualização.
           A alfabetização considerada em seu sentido restrito de aquisição da escrita alfabética ocorre dentro de um processo mais amplo de aprendizagem da Língua Portuguesa. Esse enfoque coloca necessariamente um novo papel para o professor das séries iniciais.
           Alfabetizar uma criança é difícil numa escola que, muitas vezes, quer que ela aprenda a escrever, sem primeiro dizer que ela tem o que contar.Porque nós só escrevemos quando temos o que dizer.A escola deveria ter mais tempo para levantar a história pessoal da criança, o que ela já viveu, o seu sonho, pois a função da mesma  vai além de ensinar a ler, escrever, e fazer conta de cabeça. Uma criança vai para a escola pela afetividade pela relação humana que a mesma tem.E ela só encontrará tudo isso, quando a escola passar a ver a literatura  com um olhar mais crítico e inovador.Pois a mesma empobrece a literatura quando interrompe o vôo que ela permite, quando cobra tudo que oferece. Ela dá um livro de literatura para o aluno, mas quer uma resposta.. Por isso é importante o professor saber encantar o aluno com o que está escondido na metáfora literária.
           Nessa mesma visão de pensamento, a coletânea do programa de formação de professores alfabetizadores, através do texto de Rubens Alves diz:
              
“Ensina-se, nas escolas muita coisa que não era necessário, que nós nunca iremos usar, depois, na vida inteira. Fui obrigado a aprender muita coisa que não era necessária, que eu poderia ter aprendido depois, quando e se a ocasião e sua necessidade o exigisse. É como ensinar a arte de velejar a quem mora no alto das montanhas... Nunca usei seno ou logaritmo, nunca tive a oportunidade de usar meus conhecimentos sobre as causas da Guerra dos Cem Anos, nunca tive de empregar os saberes da genética para determinar a prole resultante do cruzamento de coelhos brancos com coelhos pretos, nunca houve ocasião que eu me valesse dos saberes sobre sulfetos. Mas aquela experiência infantil, a professora nos lendo literatura, isso mudou minha vida. Ao ler, acho que ela nem sabia disso, ela estava me dando a chave de abrir o mundo”.(1996. p.M 1-U 9 T1)

           Afirmações como essa, nos faz em acreditar que realmente o sucesso da aprendizagem da criança depende da qualidade de ensino oferecido pelas escolas, principalmente na alfabetização, Por ser um período de adaptação e de descobertas dos conhecimentos e das capacidades das crianças, sendo esta turma a única que no final do ano, o professor sabe se conseguiu ou não bons resultados, isso irá depender do conteúdo aplicado e como o mesmo irá trabalhar. Formar um aluno capaz de utilizar a leitura e a escrita, tornando-o um leitor e produtor de textos em práticas sociais, é a marca do sucesso  da alfabetizarão. Portanto, ensinar todas as crianças de uma turma a ler e escrever e ainda conseguir produzir em sala de aula situações em que os alunos concedam à escrita um significado real, é o grande desafio para o alfabetizador.
            Magda Soares em uma entrevista concedida ao jornal do alfabetizador Letra A , afirma:

               “O  alfabetizador dá acesso ao maravilhoso mundo
                                                             da escrita, dá acesso aos livros, à leitura, conduz a    
                                                             criança conquista do instrumento que abre as portas                                                              
                                                             para  todo conhecimento”.(2005. p.14)
       
           Com isso ela quis mostrar, o quanto o alfabetizador precisa conhecer os diferentes componentes do processo de alfabetização e do processo de letramento, para isso, ele precisa conhecer o objeto da aprendizagem e também o processo pelo qual se aprende esse objeto, a língua escrita.


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