Cileya de Fátima Neves Moreira[1]
Maria Elizania Clares Sousa[2]
Resumo: Com
o propósito de unificar a ortografia oficial dos países de língua portuguesa (Angola,
Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e
Timor-Leste) e aproximar as nações, o novo acordo ortográfico proporciona
mudanças que vão desde as mais simples, como a inserção oficial no alfabeto das
letras k, w e y, às mais complexas,
como a questão do hífen. Críticos e especialistas consideram que ele contém
muitas imprecisões, equívocos, omissões, o que não contribui para o objetivo
pretendido. Abordaremos, então, o emprego do hífen, bem como, algumas
considerações acerca de pontos que não foram suficientemente claros.
Palavras-chave:
Acordo ortográfico; o emprego do hífen; reforma ortográfica.
“Auto-aprendizagem”,
“contra-regra”, “extra-escolar”, “anti-religioso”, “anti-semita”... Estas
palavras estariam corretíssimas até o momento em que surge o novo acordo
ortográfico. E, agora, resta-nos a pergunta: O que, realmente, muda no emprego
do hífen?
Expressas nas Bases XV, XVI e XVII do Acordo, essas regras deixam muitas
dúvidas quanto à grafia que será adotada, dúvidas acentuadas pelo uso de etc.
ao final de listas de exemplos, mesmo quando se trata de exceções à
regra.
As regras, tal como formuladas, não se dirigem ao aprendiz ou à pessoa
que deseja saber qual a grafia correta para uma determinada palavra; pressupõem
um leitor especializado, um professor, um especialista no assunto, como verificamos
na Base XV, item 1º do Acordo: “Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se
perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente:
girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista.”
Quem tem dúvida quanto à grafia de uma palavra, em particular o aprendiz,
dificilmente terá condição de decidir se foi ou não perdida (“em certos
compostos” e “em certa medida”) a noção de composição.
Ainda na Base XV, item 7° do Acordo, a regra afirma que se emprega hífen
em encadeamentos vocabulares, como em: a ligação Angola-Moçambique, a ponte
Rio-Niterói. Neste caso, ressaltamos que esses encadeamentos vocabulares não
são grafados com hífen, e sim, com meia-risca[3], também chamada de traço de ligação ou
traço médio.
De fato, o uso do hífen é o mais complexo e
controverso item do Acordo Ortográfico. Não será fácil assimilar todas
as regras em uma primeira leitura. Com certeza, serão necessárias constantes
consultas para apreensão e memorização da escrita das palavras modificadas.
A seguir, apresentamos as regras do “novo emprego do hífen”, segundo o
Acordo Ortográfico:
Não se emprega o hífen nas
seguintes situações:
1. Nas formações em que o
prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s,
devendo estas consoantes se duplicarem: antirreligioso,
antissemita, contrarregra, antessala, infrassom, ultrarromântico, suprarrenal;
Obs.: Emprega-se o hífen nas formações com os prefixos hiper-, inter-
e super-, quando combinados com elementos iniciados por r: hiper-requintado,
inter-resistente, super-revista;
2. Nas formações em que o
prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal
diferente: extraescolar, autoprendizagem,
autoestrada, autoajuda, intrauterino, infraestrutura;
3. Nas locuções de qualquer
tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou
conjuncionais): cão de guarda, fim de
semana, sala de jantar, cor de café com leite, cor de vinho, ele próprio, nós
mesmos, à vontade, abaixo de, acerca de, contanto que etc.;
Obs.: Salvo
algumas exceções já consagradas pelo uso: água-de-colônia,
arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à
queima-roupa.
Emprega-se o hífen nas seguintes situações:
1. Nas formações com prefixo
em que o segundo elemento começa por h: anti-higiênico, circum-hospitalar,
co-herdeiro, contra-harmônico, extra-humano, pré-história,
sub-hepático, super-homem, ultra-hiperbólico; arqui-hipérbole,
geo-história, neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar.
Obs.:
Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des-
e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano,
desumidificar, inábil, inumano
etc.;
2. Nas formações em que o
prefixo ou pseudoprefixo termina com a mesma vogal em que inicia o segundo elemento: anti-ibérico, arqui-irmandade,
micro-ondas, micro-orgânico.
Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se, em
geral, com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação,
coocupante, coordenar, cooperação, cooperar
etc.
No entanto, o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa registra
inúmeras formas em que esse prefixo aparece com hífen: co-secante, co-vendedor, co-autoria, entre outras.
3. Nas formações com os
prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por
vogal, h, m ou n:
circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, pan-mágico,
pan-negritude;
4. Nos compostos com os
advérbios bem e mal, quando estes formam uma unidade sintagmática e semântica e o
segundo elemento começa por vogal ou h: bem-aventurado,
mal-afortunado, mal-estar, bem-humorado; mal-humorado; Contudo, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras
começadas por consoante: bem-criado, malcriado, bem-ditoso, malditoso, bem-falante,
malfalante, bem-mandado, malmandado,
bem-nascido, malnascido, bem-soante, malsoante;
Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem
aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte:
benfazejo, benfeito, benfeitor,
benquerença etc.
5. Nas palavras compostas por
justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza
nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e
semântica, mantendo acento próprio, bem como naquelas que designam espécies
botânicas e zoológicas: amor-perfeito,
médico-cirurgião, tenente-coronel, ano-luz, segunda-feira, conta-gotas,
finca-pé, guarda-chuva, couve-flor, erva-doce, feijão-verde, bem-te-vi,
erva-do-chá, entre outras;
Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida,
a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista etc.
6. Emprega-se o hífen para
ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente
vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o
percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique, e bem assim nas
combinações históricas ou ocasionais de topônimos (tipo: Austria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro etc.).
7. Nas formações com os prefixos ex-
(com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-,
vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira,
ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto,
soto-mestre, vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei;
8. Nas formações com os
prefixos tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-,
quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as
correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação,
pós-tônico (mas pospor); pré-escolar, pré-natal
(mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover).
9. Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen
nos vocábulos terminados por sufixos de origem tupi-guarani que representam
formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o
primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia
exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim,
andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim;
10. Emprega-se o hífen nos
topônimos compostos, iniciados por grã, grão ou por forma verbal ou cujos
elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha,
Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes,
Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo,
Trás-os-Montes.
Obs.: Os outros topônimos compostos escrevem-se com os elementos
separados, sem hífen: América do Sul,
Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta etc. O topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.
11. Emprega-se o hífen nos
compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-fiar, aquém-Pireneus; recém-casado,
recém-nascido; sem-cerimônia, sem-número, sem-vergonha.
12. Emprega-se o hífen na
ênclise e na tmese: amá-lo, dá-se,
deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei, enviar-lhe-emos.
Como percebemos, a questão do hífen é bastante complexa e exigirá de nós
compromisso para, então, colocarmos em prática as regras do Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa.
Bibliografia:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 3. ED. Rio de
Janeiro, 1999.
CINTRA, Geraldo.
Algumas considerações sobre o Acordo
Ortográfico. Disponível em: <http: // www.fflch.usp.br/eventos/simelp/new/pdf/mes/07.pdf>.
Acesso em: 26 mai. 2009.
SANTOMAURO,
Beatriz; VICHESSI, Beatriz. Uma nova
grafia. São Paulo, jan./fev. 2009. Seção Reportagens. Disponível em: <http:
// www.novaescola.org.br>.
Acesso em: 27 mai. 2009.
[1] Pós-graduanda
em Língua Portuguesa e Literatura pela UVA e Professora, graduada em Letras
Habilitação em Língua Portuguesa e suas Respectivas Literaturas pela
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)
[2] Pós-graduanda
em Língua Portuguesa e Literatura pela UVA e Professora, graduada em Letras
Habilitação em Língua Portuguesa e suas Respectivas Literaturas pela
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)
[3]Serve para unir os
valores extremos de uma série, como números (1–10), letras (A–Z) ou outras,
indicando ausência de intervalos na enumeração. E, também, para unir palavras que tenham um nexo lógico (ex.: a viagem Lisboa–Porto).
De acordo com o novo acordo ortográfico, 'palavra chave' (palavras chave - pl.) escreve-se sem hífen (Ver Grande Dicionário Sacconi).
ResponderExcluirSem hífen e separado(palavras chave)? Ou sem hífen e junto (palavraschave)?
Excluir